Comecemos dizendo que existem poucos dados biográficos de Fílon de Alexandria.
Alguns dados biográficos são deduzidos por meio dos seus escritos, outros pelos poucos acenos que Giuseppe Flávio faz sobre ele nas "Antiguidades judaicas".
Antes de mais nada, a data de nascimento e a data da morte de Fílon de Alexandria não são sabidas ao certo, são deduzidas pelos episódios da sua vida que nos são narrados.
Sabemos que nos anos 39/40, d.c. Fílon estava em Roma para protestar, perante o imperador Calígula, da ocorrência de algumas violências sofridas pelos hebreus. Acerca deste episódio ele escreve e Giuseppe Flávio comenta nas Antiguidades judaicas, que cito a seguir.
As conjecturas posicionam o nascimento de Fílon de Alexandria entre os anos 20 e 10 a.c., e colocam a morte de Fílon por volta do ano 50 d.c
Sabemos que Fílon de Alexandria pertencia a uma das mais ricas famílias de hebreus de Alexandria. Ele dedicou a sua vida à bíblia transliterando o sistema usado pelos gregos para interpretar Homero, aplicando-o à interpretação da bíblia.
Homero poeta usa as palavras e a forma para descrever as emoções no atuar delas, a bíblia surge como palavra imutável e ininterpretável do seu Deus. Ninguém pode interpretar a palavra de Deus da bíblia, porque a palavra de Deus revela-se mediante a palavra em si mesma. Depois descobriu-se que a palavra é enganosa, então os hebreus ao invés de condenar a palavra que engana, adotam o método grego de interpretação simbólica, um tipo de exegese, corroborando o engano da palavra.
O irmão de Fílon de Alexandria repudiou a fé hebraica para assumir a religião grega (mesmo sem saber alguma coisa da Grécia). Ele fez como sendo suas as ideias dos pagãos (provavelmente refere-se aos platônicos e aos estoicos). O fascínio pelas ideias provenientes da Grécia sobre os hebreus de Alexandria era muito forte.
Toda a ação filosófica-ideológica de Fílon de Alexandria era uma ação de proselitismo em função do hebraísmo. Uma verdadeira e precisa guerra contra os Pagãos a serem vencidos a qualquer custo.
Fílon de Alexandria escreve:
"é legítima a revolta contra o falso poder, como no caso dos irmãos de José."
são por isso louvados, no caso em exame, aqueles que não cedem um passo ao campeão da vanglória, mas os impedem dizendo: "Pensas, talvez, em tornar-te rei e reinar sobre nós? " (Gen 37,8). De fato, veem que ele ainda não está no ápice da força, que não é como uma chama suspensa e reluzente aqui e lá num matagal denso, mas ainda está na etapa de uma centelha oculta, e que entrevê no sonho a glória, mas que não a persegue novamente com uma visão clara. Dentro de si estes nutrem confiantes uma esperança, convencidos de não poderem cair como presas nas suas garras. Por isso, dizem: " Não acreditarás que reinarás sobre nós", o que equivale dizer: "Tu acreditas nos dominar até que estejamos com vida e portanto existindo, até que tenhamos força e respiro? Porque, talvez, se nós fôssemos fracos, tu poderias nos subjugar, mas desde que somos fortes, tu é quem estarás em condição de súdito". Isto entra novamente na ordem natural das coisas: quando no intelecto está forte a atenção da razão, se dissolve a vanglória, que ao contrário revigora quando a razão é reduzida a um estado de fraqueza. Enquanto, portanto, a alma mantém intacta a sua própria força e não foi mutilada em nenhuma das suas partes, tenha a coragem de golpear de perto e de longe o orgulho cego que a ela se opõe e fale livremente, dizendo: "não serás rei nem senhor" nem de nós ou de outros enquanto durar a nossa vida. Nós manteremos as tuas intimidações e as tuas ameaças com um único ataque, sustentado por aqueles soldados armados de lança e de escudo, que são filhos do bom senso. Deles é dito: "Estes passaram a odiá-lo por causa dos seus sonhos e das suas palavras." E não são talvez as palavras e os sonhos todos os fantasmas evocados pela vaidade, enquanto os fatos e a realidade são evidentes, todas as coisas aderem ao reto viver e ao reto raciocinar? Os primeiros provocam um ódio justo pela sua falsidade, as segundas merecem simpatia porque estão repletas da verdade que nada se pode senão amar. Que ninguém, portanto, ouse mais mover acusações aos homens tão consideráveis por sua virtude, quase que representariam um exemplo de caráter hostil à humanidade em geral e ao próprio irmão em particular, mas que cada um fique ciente de que quem aqui é submetido a processo, não é um homem, ao contrário, são os aspectos ínsitos na alma de cada um de nós que persegue loucamente a glória e a futilidade, e aprova aqueles que concebem a isto uma hostilidade implacável e um ódio desapiedado, sem nunca permitir a simpatia em direção ao objeto da aversão deles. Que cada um tenha uma ideia clara de que juízes, como estes, nunca teriam se omitido de emitir um veredito sadio, mas que instruídos pela educação recebida em venerar e a honrar somente ao verdadeiro rei, o Senhor, se desprezam diante das vistas de quem se apropria da honra devida a Deus e afastam os seus fiéis para atrai-los ao culto de si mesmo."
Extraído de: Fílon de Alexandria, Os sonhos são enviados por Deus, em O homem e Deus, Rusconi, 1986, p. 553 - 554
O que interessa para Fílon de Alexandria é o poder, o domínio, de Deus sobre os homens. À qualquer custo. E esta vontade do poder de Deus sobre os homens, à qualquer custo, é um dos motivos centrais dos evangelhos cristãos.
A revolução causada por Fílon de Alexandria, no hebraísmo, encontra-se em Giuseppe Flavio nas suas "Antiguidades judaicas". Enquanto os Fariseus procuram preservar a tradição, entendida como "palavra imutável de Deus", Fílon de Alexandria introduz a interpretação subjetiva do querer de Deus. Este tipo de interpretação não consente somente manifestar a vontade de Deus, nas palavras atribuídas por Deus naquela situação, mas permite aplicar a mesma diretiva interpretada em todas as situações análogas ou similares que se apresentam.
Por isso, a atividade em armas não é a ação dos irmãos de José na cultura e no tempo deles, mas é uma atividade desejada por Deus em cada cultura e em cada tempo para permitir, conforme diz Fílon de Alexandria, a reapresentação do passo bíblico.
"Pensas talvez em tornar-te rei e de reinar sobre nós?" (Gen. 37,8)
Fílon de Alexandria introduz no pensamento hebraico um tipo de exegese. Depois, então, foi possível construir o cristianismo.
Não devemos ter em mente que a data do evangelho mais antigo que fala de Jesus é o que foi escrito por Marcos, segundo os estudiosos cristãos, por volta do ano 70 em Roma, mas é provável que tenha sido escrito depois do ano 70, após a destruição de Jerusalém por obra de Tito e a chegada dos hebreus em Roma, derrotados e reduzidos à escravidão. Nisto está o conceito do cristianismo como religião dos escravos, que se torna a religião da escravidão bem representada no evangelho de Marcos e nas cartas dos apóstolos.
Está fora de discussão de que quem inventou a figura de Jesus e a ideologia com a qual descreve sua vida, assim o fez partindo de exigências objetivas em que a sua vida estava envolvida. Para fazer a operação, que provavelmente não era chamada nem ao menos de cristianismo, no início, podemos identificá-la, muito provavelmente, com o zelotismo, era necessário que o indivíduo ou o grupo de indivíduos tivesse conhecimento os textos sagrados dos hebreus, o platonismo e soubesse combiná-los juntos, tornando o conjunto sincrético com serventia aos próprios escopos sociais. Fílon de Alexandria é o indivíduo que assume em si mesmo estas características.
A estado de necessidade em que a ideologia é inserida e que se tornará o cristianismo está bem descrita na discussão entre as facções hebraicas que precedem à destruição de Jerusalém no ano 70. Mas, vale a pena recordar como era a situação no ano 38 d.c., quando Fílon de Alexandria conduz a Calígula uma embaixada em nome dos hebreus, as decisões de Calígula, a qualidade da discussão entre Romanos e hebreus e a interpretação da colisão é dada por Giuseppe Flavio.
Giuseppe Flavio em "Antiguidades judaicas" escreve:
Levante dos judeus de Alexandria e Jerusalém
Naquele tempo, estourou na Alexandria, uma guerra civil entre os habitantes judeus e os gregos. foram eleitos três delegados, um para cada fação, para que se apresentassem diante de Gaio. Um dos delegados alexandrinos era Apione, que insultou os judeus com linguagem obscena declarando entre outras coisas que eles negligenciavam em prestar as homenagens devidas ao imperador. Uma vez que entre todos os povos súditos do império romano que haviam dedicado altares e templos a Gaio e lhe haviam dado sob cada aspecto a mesma atenção que tinham em referência aos Deuses, somente este povo desdenhava honrá-lo com estátuas, e de jurar em seu nome. Apione pronunciou muitas palavras repletas de ira com as quais esperava provocar Gaio, como se podia esperar. Fílon que estava na direção da delegação judaica, homem de grandíssima honradez, irmão do recebedor dos direitos de importação, Alessandro, inexperiente em filosofia, se preparava para intervir em defesa contra as acusações. Mas Gaio foi direto ao assunto, e lhe disse para retirar-se, e cheio de cólera demonstrou claramente que tinha uma resolução péssima contra eles. Fílon, tratado de um modo assim injurioso retirou-se da sala dizendo aos judeus que o acompanhavam para terem coragem, porque a cólera de Gaio era somente uma questão de palavras, na realidade Deus prometia, era contra ele mesmo. Enfurecido de ser tratado daquela maneira somente pelos Judeus, Gaio enviou Petrônio à Síria, como seu coligado, para suceder Vitellio neste dever. As suas ordens foram de levar à Judéia uma grande força e, se os Judeus consentissem acolhê-lo, então seria erguida uma imagem de Gaio no templo de Deus; se ao invés, ficassem obstinados contra ele, seriam submetidos com as armas. Petrônio assumiu a administração da Síria e estudava executar as ordens do imperador. Reuniu toda uma quantidade possível de auxiliares e, no comando de duas legiões do exército romano tomou o trajeto de Tolemaide com a intenção de passar o inverno lá, e atacar sem iniciar guerra no início da primavera. Ele escreveu a Gaio o que ele tinha em mente para agir. Gaio respondeu elogiando a sua prontidão, ordenou-lhe para não afrouxar em nada, mas para atacar com uma guerra decisiva contra eles no caso deles persistirem na desobediência. Milhares de Judeus dirigiram-se a Petrônio em Tolemaide, suplicando para não forçá-los a transgredir iniquamente a lei tradicional deles: Disseram: "Se tu te propões firmemente a introduzir e a erguer a imagem, faze-o, porém deve matar todos nós, uma vez que para nós não é possível sobreviver diante de ações vetadas por decisões do nosso legislador e dos nossos antepassados que exprimiram estas medidas como leis morais."Petrônio irado respondeu: "Se eu fosse imperador e pretendesse praticar esta ação de acordo como a minha cabeça mandasse, vocês teriam o direito de falar nestes ternos. Mas, uma vez que eu sou um funcionário de César, e obrigado a aturar as decisões que ele já tomou, a desobediência me atrairia um castigo inevitável". "Já que tu, Petrônio, estás decidido" redarguiram os Judeus, " em não transgredir as ordens de Gaio, nós estamos decididos a não transgredir as declarações da lei. Nós colocamos a nossa confiança nas promessas de Deus e nas labutas dos nossos antepassados, que até agora jamais transgredimos. Nem jamais avançaremos para tamanha maldade transgredindo com as nossas ações a lei que nos vincula ao nosso bem, por medo da morte. Para proteger a lei dos nossos pais, suportaremos pacientemente tudo o que nos espera, a confiança que para todos aqueles que estão determinados a aventurar-se, para vocês há também a esperança de prevalecer; já que Deus estará do nosso lado, se acolhemos o mal para a Sua glória. Nos afazeres humanos, às vezes a sorte está de lado e outras vezes do outro lado. Aliás, a obediência a ti atrairia sobre nós a acusação de covardia, uma vez que equivaleria cobrir a nossa transgressão da lei e ao mesmo tempo incorreremos na cólera severa de Deus; e Ele aos nossos olhos tem um peso muito grande, deveras, ao poder de Gaio." Com as palavras deles Petrônio viu que não era fácil despedaçar o espírito deles, e que para ele teria sido impossível sem haver uma batalha levar a cabo as ordens de Gaio e erguer a sua imagem. E, na verdade, teria sido um grande massacre. Reuniu amigos e servos e encaminhou-se à Tiberíades, querendo examinar de perto naquele lugar a situação da nação do Judeus. Considerando também um risco enorme, que implicava num choque bélico com os Romanos. Os Judeus decidiram que o risco da transgressão da lei era maior. E como havia acontecido antes, dezenas de milhares enfrentaram Petrônio na sua chegada à Tiberíades. Eles evitaram por todos os meios para que não chegasse ao ponto de contaminar a cidade erigindo-se uma estátua. "Quereis entrar em guerra com Cesar?" disse Petrônio, "sem levar em conta o poder dele e a vossa pequenez?" Responderam: "Por motivo nenhum nós combateremos, mas antes morreremos ao invés de violar as nossas leis"; então deitaram-se de bruços na terra expondo o pescoço e diziam que estavam prontos para serem mortos. Este confronto durou quarenta dias; não se preocupavam em cultivar os campos, embora o tempo para a seminação se aproximava. Os judeus mantinham-se firmes e determinados, bem como prontos a morrerem, em vez de presenciarem a elevação da estátua. As coisas estavam neste ponto quando Aristobulo, irmão do rei Agrippa, junto de Elcia, o Ancião, e outros membros importantes desta casa, juntos aos chefes civis se apresentaram diante de Petrônio e a ele fizeram um apelo, uma vez que havia visto o profundo sentimento do povo, para não incitá-lo ao desespero, mas para escrever a Gaio dizendo-lhe quanto era irremovível a oposição do povo em receber uma estátua e como os campos haviam sido abandonados, como protesto, sem que tivessem aceito a guerra, de modo que não poderiam combater, mas que estariam prontos a morrerem ao invés de transgredirem as suas leis. Acrescendo-se o fato de que ao considerar-se que a terra não estava semeada, pretender a colheita seria uma ação de bandidos, porque haveria menos do necessário para o pagamento do tributo. Talvez, diante de tal notícia, Gaio deixaria de lado toda a sua severidade ou não teria adotado um plano tão cruel como é o extermínio da nação. Mas se ficasse firme nesta presente política de guerra, Petrônio então poderia inclusive ir avante com as operações. Este foi o conselho que Aristobulo, e dos que estavam com ele, deram a Petrônio; ele ficou impressionado, mas tratando-se de uma questão de tamanha importância, ele empenhou-se por todos os meios para que tudo terminasse bem; tinha em mente que a obstinada determinação dos Judeus em resistir, então pensou que seria uma coisa terrível as mortes de milhares de pessoas para levar avante as ordens loucas de Gaio, considerando-as culposas em relação às reverências deles a Deus e por isso passasse o resto da sua vida infeliz. Ele decidiu que seria muito melhor enviar uma carta a Gaio suportando a sua inexorável cólera que surgiria por não ter executado prontamente as ordens. Petrônio esperava persuadi-lo. Todavia, supondo que Gaio tivesse insistido na sua resolução louca, ele teria iniciado a guerra contra os Judeus. Mas, se no fundo, Gaio tivesse invertido contra ele parte da sua cólera, uma pessoa que estima a virtude, teria retornado à sua honra por ter dado a vida em favor de um grande número de pessoas. E, assim, decidiu reconhecer a força de persuasão dos suplicantes. Ele, portanto, reuniu os Judeus em Tiberíades onde se juntaram muitas dezenas de milhares, colocou-se ao alto diante de todos e explicou que a presente expedição não era uma escolha sua, mas uma ordem do imperador, cuja cólera teria sido invertida de súbito sem nenhuma tardança sobre aqueles que ousavam desobedecer as suas ordens."E é justo àquele a quem foi conferida uma posição assim alta, de imperador, que nada deve se opor a ele: todavia, eu não reputo justo colocar em jogo a minha salvação e a minha posição para salvar a vós da destruição, que são tão numerosos. Vós alegastes os preceitos da vossa Lei, que defendeis como vossa herança e servis obedecendo o soberano de todos, Deus onipotente, cujo templo eu não terei coragem de ver cair à mercê da insolência da autoridade imperial. Mando, ao invés, uma comunicação a Gaio esclarecendo completamente a vossa determinação, e defendendo de qualquer modo a minha aquiescência, contrária ao seu decreto, tendo como objeto o proposto por vós. Deus vos auxilie, visto que o Seu poder está acima de toda ingenuidade humana ou força; possa Ele conservar-vos na custódia e observância das vossas leis tradicionais sem nunca jamais privar-vos destas, na conspiração dos caprichos humanos, das Suas tradicionais venerações. No caso de Gaio, amargurado, fará de mim um objeto da sua cólera inexorável, eu suportarei cada dano e todo gênero de sofrimento que possa ser infligido ao meu corpo, e considerarei ao contrário minha sorte que não seja destruído um povo tão numeroso por suas ações virtuosas. Ide, portanto, cada um à sua própria ocupação e aos trabalhos da terra. Eu enviarei a Roma uma mensagem e não executarei nenhuma obra com alguma ação, seja para minha vantagem seja para vantagem dos meus amigos."Com estas palavras dispenso a assembleia dos Judeus e peço àqueles com prestígio para que pensem nos trabalhos agrícolas, e deem ao povo boas esperanças. E assim ele fez o melhor que deveria fazer para encorajar a multidão. Deus, de um lado Seu, mostrou a Petrônio que Ele estava junto dele, e havia lhe concedido a Sua ajuda em cada coisa. Assim que Petrônio acabou de falar aos Judeus, Deus enviou um toró de improviso, que ninguém esperava; aquele dia desde a manhã tinha se mantido claro, o céu não havia dado nenhum sinal de chuva; no decorrer do ano o tempo estava seco até levar os homens ao desespero pela falta de água, se bem que algumas vezes o céu mostrou-se encoberto. Ao invés disso, quando aquele grande temporal excepcional e inesperado despencou sobre a terra, os Judeus estavam confiantes de que as súplicas erguidas a eles por Petrônio não permaneceriam ineficazes; do mesmo modo Petrônio permaneceu atordoado quando viu a inegável evidência de que a providência de Deus estava sobre os Judeus, e a forma como Ele havia demonstrado a Sua presença de modo assim tão abundante, não apenas àqueles que já tinha tomado a solução oposta, mas também os outros que não tinham mais coragem para discutir. Vagalhões, entre as coisas que Petrônio escreveu a Gaio, inseriu também isto para suplicar-lhe e persuadi-lo de toda maneira para não enviar à ruína tantos milhares de pessoas em desespero; e certamente eles não teriam ido contra a religião antiga deles sem uma guerra; seriam menos os que estariam nas entradas, e ele submeter-se-ia a uma maldição por todos os tempos. Disse, portanto, que a Divindade que o protegia tinha demonstrado como a Sua potência era indivisível e não deixou a outros o uso desta Sua potência. Assim era para Petrônio.
Extraído de: Giuseppe Flavio, Antiguidades Judaicas vol. 2, UTET, 2006, pág. 1146 1152
É indubitável que esta situação objetiva de conflito gera a necessidade de um complexo ideológico-doutrinal como exigência daquilo que foi vivenciado. Tal corpo doutrinal inicial vem, posteriormente, a ser transformado e manipulado segundo às experiências de cada "profeta" ou "escriba" singularmente. Quando é dada uma nascente que produz tal ideologia, a água ideológica produzida não apenas enche copos diversos, mas assume também diversas qualidades conforme o uso que os homens dela fazem.
É difícil não ver como a vida de Jesus descrita nos evangelhos não é semelhante à vida de Sócrates, descrita na Apologia. É difícil não pensar que a grande parte dos episódios, que qualificam Jesus, foram tomados da mitologia e das religiões de mistérios daquele tempo, seja pelos comportamentos atribuídos a Jesus, seja quando deseja-se que Jesus é contrário a um certo modo de pensar ou de ser, que condena (como a democracia).
É difícil pensar que o ódio de Jesus pelos Fariseus não foi o mesmo ódio dos Zelotes contra eles. É difícil pensar que o ódio contra Herodes por parte dos cristãos não derive da helenização da Palestina e da supressão da revolta de Palazzo que deveria destituir Herodes (o massacre dos inocentes).
De fato Fílon de Alexandria arremessa as bases não apenas para a construção da qualidade da ideologia cristã, mas também para delinear as estratégias militares com a finalidade do controle social.
As estratégias de Fílon de Alexandria têm a finalidade do proselitismo. Após a destruição de Jerusalém, os Setenta irão condenar os cristãos e acrescentarão a prece chamada de "Schemone esre", o modelo do pai nosso cristão, uma invocação, uma solicitação à Deus para a maldição contra os Minnim, os cristãos, que então serão acusados de serem os artífices da destruição de Jerusalém. Enquanto os hebreus cessaram a sua ação de proselitismo religioso, os cristãos se fizeram de autores das estratégias de Fílon de Alexandria.
Fílon de Alexandria escreve:
*Prudência requer que se ceda ao mais forte para evitar riscos inúteis*
'Esta é a recompensa da franqueza inoportuna que, na avaliação das pessoas sensatas, não é absolutamente franqueza, é ao contrário estupidez, loucura, demência insanável. O que pensas a respeito? Alguém que presencia o ápice de uma tempestade, a violência dos ventos contrários o desencadear furioso de um furacão, um mar revoltoso com vagalhões, não deverias permanecer no abrigo do porto ao invés de levantares as âncoras e zarpar? Qual timoneiro ou capitão que exaltado e ensopado pela chuva, ao ponto de desejar ir para o mar quando desencadeou-se o mau tempo que descrevi, com o perigo do seu navio encher-se de água por todas as partes, afundar pelas ondas do mar indo até ao fundo com todo o equipamento? Quem quer navegar sem perigo tem sempre a possibilidade de aguardar um vento sereno, favorável e doce. E ainda: quem vê um javali ou um leão prestes a agredi-lo com violência, talvez põe-se a instigá-los e irritá-los em vez de procurar amansá-los e aquietá-los como deveria agir, está pois oferecendo-se para tornar-se alimento suculento que satisfaça a crueldade desapiedada desses carnívoros. A não ser que seja de utilidade afrontar os escorpiões, as áspides egípcias e qualquer outro animal portador de veneno letal, que levam inevitavelmente à morte, quem já sofreu uma única vez a mordida deles: ao contrário, devemos nos considerar afortunados se conseguirmos amansá-los e fazer com que se tornem dóceis, para evitar que nos façam mal. Mas não existem talvez homens mais ferozes e insidiosos do que javalis, escorpiões e áspides, homens com uma tal crueldade maligna dos quais não podemos nos subtrair senão procurando amansá-los e mitigá-los? Por este motivo Abrão, com a sua sabedoria, prostrou-se diante dos filhos de Et (Gen. 23,7) - cujo nome significa "aqueles que se afastam" - e são as circunstâncias que lhes sugerem a oportunidade para um tal comportamento. De fato, ele não é induzido a prostrar-se em decorrência de um senso de respeito em relação àqueles que por natureza, por nascimento e por costumes são inimigos da razão e que afastam de si a instrução, a moeda preciosa da alma para gasta-la miseravelmente, reduzidas a moedas de troco; ele se prostra porque teme o poder que esses dispõem no momento e à sua força invencível, e porque se protege muito bem para não provocá-los, tendo em vista o bem maior e seguro que ele quer alcançar e que é a recompensa da vista, a dupla caverna (cfr Gen. 23,9). O refúgio melhor para as almas sábias, que não se pode conquistar com guerras e batalhas, mas somente com a condescendência obsequiosa ditada pela razão. Aliás, nós mesmos quando nos encontramos na ágora, porventura não temos o hábito de abrir caminho aos magistrados e nos puxarmos de lado para dar passagem aos animais de carga? Mas o fazemos por diversas razões, não pela mesma. Diante de magistrados nos afastamos por respeito, diante dos animais de carga para que não nos façam mal. E se as circunstâncias permitem, é um bem atacar e reprimir a violência dos inimigos, mas em caso contrário é melhor permanecermos tranquilos para não corrermos riscos, e se queremos tirar deles alguma vantagem é conveniente procurar amansá-los.
Extraído de: Fílon de Alexandria, os sonhos são enviados por Deus, em O homem e Deus, Rusconi, 1986, p. 551 - 553
Para os cristãos o método adotado por Fílon de Alexandria torna-se uma arma para começar a conquista do mundo.
É indubitável que a fonte ideológica do cristianismo é Fílon de Alexandria. Condições, fins e meios testemunham este papel. Quarenta anos depois iniciou-se a personificação desta ideologia. Jesus, o homem que havia conduzido o povo hebreu para fora da Babilônia para recordar um Jesus mais antigo que tinha apoiado Moisés levando o povo hebreu para fora do Egito, alimentou a imaginação de um Jesus salvador do mundo construído nas estratégias delineadas por Fílon de Alexandria.
Deste modo a imaginação torna-se substância ideológica e a substância ideológica dá forma à imaginação.
É uma estratégia antiga de propaganda ideológica. Moisés nunca existiu, mas foi construído sobre lendas de Sargon. Jesus nunca existiu, mas é construído na lenda de Sócrates na Apologia. Budd nunca existiu, mas é construído na lenda do fundador do jainismo. Exatamente como Platão que atribui cada invenção sua para submeter o homem a uma figura imaginária, de Sócrates aos Órficos. São eles que o dizem, não eu. É Jesus que o diz, não eu. É o Buddha que o diz, não eu.
É o sangue dos homens, no mundo, que escorrerá em rios!
Marghera, 05 de outubro de 2018
A tradução foi publicada 14.05.2021
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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