Platão filho de Aristão

As biografias dos jogadores - segunda biografia

Capítulo 85

A partida de futebol mundial entre os filósofos

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

 

As biografias dos filósofos

 

A biografia de Platão filho de Aristão

 

Platão nasce em 427 a.c. e morre em 347 a.c.

Para se entender o tipo do pensamento de Platão é necessário entender que não apenas Platão tinha parentesco e relações ideológicas com os tiranos oligárquicos, relacionamentos impostos por Esparta, mas que também a tirania era o objetivo justificado de acordo com o seu pensamento filosófico.

Conforme Platão, vida e filosofia estão pari passu, são simultâneas. Ele elaborou exaltações ao tirano Crítias e Alcibiades, sendo ele parente de Crítias.

Platão não esteve presente durante a morte de Sócrates e por este fato despertou enorme assombro entre os estudiosos. Platão para servir-se, bem como para colaborar com os Trinta Tiranos impostos por Esparta, foge de Atenas e se refugia em Mégara, uma cidade que nas guerras do Peloponeso havia se juntado à Esparta e com as oligarquias antidemocratas, contra Atenas.

Platão era íntimo do tirano de Siracusa, Dionisio I, o neto Dione (que se tornará tirano por sua vez), Dionigi o velho, e Dionigi o jovem. Platão não hesita em defender Heráclides que, estando contra Siracusa, incita a revolta dos mercenários.

É para salientar-se que no ano de 353 a.c. Dione, o pupilo de Platão logo a seguir tomará o poder de Siracusa com um golpe de Estado, virá por sua vez a ser justiçado com uma revolta.

Mas a intimidade com os tiranos não prossegue muito bem com Platão. Platão o tirano sem uma tirana, quer declarar guerra ao tirano que domina Siracusa, e o tirano que domina Siracusa concede-lhe uma bela viagem no inferno da escravidão. Durante a viagem de volta de Siracusa, Platão foi conduzido à ilha de Egina onde tornou-se prisioneiro e escravo. Depois, Platão é liberado da escravidão por Aniceride de Cirena.

Na tentativa de substituir a sua própria tirania com outras tiranias, será caçado em Siracura uma segunda vez.

Que Platão se sentia um deus, filho de um deus, não deveríamos ter dúvidas.

É uma manobra de Espeusipo, filho da irmã de Platão e pupilo de Platão que, sucedendo-lhe na direção da Academia, tem a ideia de santificar Platão.

A santificação dos delinquentes, para que os seus pensamentos não sejam analisados muito profundamente, é uma invenção da Academia de Atenas e, posteriormente, foi usurpada pelos cristãos, como sendo de autoria deles, numa época seguinte, como uma forma para delinquir. Eles encherão os seus calendários com "santos", todos homens que se comportaram como delinquentes sociais, homens que mataram, roubaram, que humilharam e torturaram outros homens, são aqueles que destruíram povos até o ponto de cometerem genocídios; "santos" porque os seus delitos não eram, ao menos não apenas, com a finalidade de proveito pessoal, mas nessa busca de alcançar as suas vantagens pessoais, eles impuseram a submissão dos homens a Deus. Em outras palavras, glorificaram Deus. Como depois dirá Paulo de Tarso que, não agiram pela carne mas agiram pelo espírito.

Platão, segundo Espeusipo, teria sido filho do deus Apolo e, por isso, irmão de Asclépio. Contam-nos que Aristão (pai de Platão) na iminência de deitar-se com a mãe de Platão, Perictíone, aparece-lhe o deus Apolo que o convence para não ter relação sexual com Perictíone porque ele havia pensado de engravidá-la de Platão. É o mesmo tema do deus dos cristãos, de Maria e de José. Um tema que, antes de chegar aos cristãos, passa por Cipião o Africano (lembremos do papel do círculo dos Cipiões com a chega à Roma das ideias da Academia) do qual a mãe conta que ficou grávida através de uma luz do deus, também para recordar Alexandre Magno que instiga a sua mãe a confessar que o seu pai não era Filipe, mas sim o deus Amon.

Espeusipo não inventa uma história falsa se essa técnica não fizesse parte do esquema da Academia como demonstra, no restante, a mesma Apologia de Sócrates na qual Sócrates afirma ser o homem mais sábio do mundo porque assim havia dito Apolo a um amigo seu.

O mitificar aquilo que diz respeito a uma revelação divina, ou a um mando divino, constitui um modelo de todos os pensadores cujo pensamento está propenso a tornar legítimas a ditadura e a submissão. O submeter os homens não depende da maldade deles ou da sua incapacidade para viver, mas depende da vontade de deus, do qual eles se sentem como os porta-vozes.

Assim, teve início na Academia o culto a Platão elevado a deus. E quem ousava discutir as ideias absolutistas e tirânicas de Platão se tais ideias eram de um Deus ou de um enviado de Deus?

Platão, do mesmo modo de Jesus, curava os doentes. Era filho de Apolo e irmão de Asclépio, consequentemente, um milagroso. A veneração a Platão acentuou-se também entre os neoplatônicos.

Espeusipo na sua obra, o banquete fúnebre de Platão, colocou as bases que apoiaram o evangelho de Lucas quando exaltou a inteligência e a memória de Platão quando ele era menino, e quanto ele era estudioso na adolescência. Exatamente como Jesus, menino, segundo Lucas, causou assombro dentro do templo (Evangelho de Lucas, 2, 46). O modelo literário sobre o qual são costurados e remendados os Evangelhos é o de Sócrates, de Platão e tudo quanto foi inventado na Academia de Atenas, com o único escopo de tornar os escritos de Platão como sendo a revelação de um deus e, consequentemente, impedir a análise crítica.

Platão é o inventor dos modelos da filosofia que exaltam o domínio do homem sobre o homem. É o inventor da necessidade de "possuir o homem de todo o seu coração e com toda a sua alma."

Cada poder constituído e cada ditadura terão Platão como guia e inspiração. O próprio cristianismo, tempos depois, será forçado a usar as invenções filosóficas de Platão, colocando-as de alicerce para a sua ideologia religiosa. De conseguinte, somente assim pôde dominar o homem.

Vale a pena fazer um pequeno elenco das invenções filosóficas de Platão. É útil recordar que muitos dos nomes, com os quais definimos as invenções de Platão, já eram usados pelos filósofos que o precederam ou pertenciam ao mito religioso que precedeu à chegada de Platão. Platão, então, se serve do nome, da ideia, e acrescenta um conteúdo seu. Quando tal nome vem a ser reutilizado, na realidade perdeu o significado que foi atribuído pelos pré-platônicos, porque assimilou o novo significado platônico que se apresentou perante a sociedade.

Por exemplo, quando falamos de "alma" não mais entendemos "o que alma" significa para poder distinguir aquilo que é animado daquilo que avaliamos não ser animado, mas entendemos com o significado que foi atribuído por Platão: um objeto diferente do corpo físico, que habita o corpo físico, que em si mesmo precedeu o nascimento do corpo físico e que sobreviverá depois da morte do corpo físico, sempre igual a si mesmo e sempre imutável. Este modo de pensar, acerca da alma, constitui um conceito introduzido por Platão que, separando o corpo da alma, através do controle da alma, impõe aos corpos um comportamento, uma moral, a ser observada por meio de um tipo de controle militar.

A alma é um objeto que controla o corpo, e que ainda indica qual o tipo de moral que o corpo deve seguir. De fato, a descrição que define o termo "alma", controla os corpos dos homens e até então determina-lhes os seus comportamentos. De conseguinte, tudo o que a alma quer do corpo é exatamente aquilo que o poder social pretende do corpo. Em outras palavras, é aquilo que Deus quer dos corpos dos homens.

A alma, como nós pensamos hoje, isto é, separada do corpo, é uma invenção de Platão. Toda a filosofia falará dos "direitos da alma" ou dos "deveres do corpo em relação à alma", a filosofia jamais falará dos corpos que habitam um mundo de seres viventes.

No Timeu, Platão escreve:

'Pelo que diz respeito, complementando, à forma da alma, que em nós é a mais importante, é preciso levar-se em conta que o Deus conferiu-a a cada um como um demônio. É esta a forma de alma que nós dizemos que habita na parte superior do corpo, e que da terra nos eleva em direção à realidade que nos é semelhante no céu, porque nós somos plantas, não terrestres, mas celestes.'

Platão, Timeu 90A em, Todos os Escritos, Bompiani, 2014, p. 1409

Com a invenção da alma, que precede ao nascimento do corpo e que continuaria existindo depois da morte do corpo, mantendo um controle constante sobre o corpo, Platão passa a inventar a reencarnação. Existiam conceitos que precederam o conceito de reencarnação de Platão? Pode ser como pode não ser. Não chegaram a nós dados precisos acerca dos pensadores que precederam Platão. Muitas informações de filósofos precedentes são deduzidas pelo que diz Platão, ou pelo que dizem também aqueles que vieram muito depois de Platão. Platão é duvidoso e, portanto, não merece ser levado em consideração. Com frequência aquilo que ele assevera, na realidade ele atribui a outros para não assumir a responsabilidade de afirmar pessoal e exclusivamente.

Platão, ao inventar a reencarnação, com a qual, segundo ele, o indivíduo mais "torpe" é aquele que reencarna como mulher, deve se privar das experiências, dos trabalhos e das atividades que foram produzidos em outras vidas com outros corpos. Platão inventa, dessa maneira, acerca da recordação. Não são os homens que habitam o mundo, que aprendem e que modificam a si mesmos aprendendo, mas, segundo Platão, os homens se limitariam em recordar as experiências das vidas passadas. Só que, ele esqueceu de dizer quais seriam as coisas que as pessoas se lembrariam das suas vidas passadas, no que diz respeito às suas experiências passadas. O homem, para ele, não é precioso pelo fato de habitar o mundo com dedicação e paixão, mas as pessoas dedicadas são humilhadas porque só podem se limitar à recordação, à reminiscência.

Platão inventa a possessão diabólica. O Daemon da Grécia era o aspecto divino de cada ser vivente. Os próprios Deuses eram Daemons potentes e os homens tinham esse poder divino que era alimentado durante as suas vidas, e esse poder divino era parido na morte do corpo físico. Platão separa o homem da parte divina, que ele chama de alma, de modo que, ele separa o homem em dois, isto é, como corpo e como alma, separando o homem das tensões que o impulsionam a agir neste mundo atribuindo-as aos objetos externos, aos quais ele denomina "demônios".

Essa operação é realizada por meio da Apologia de Sócrates; quando Sócrates diz:

'Não há, ó caríssimo, e se tu não desejas dizê-lo, eu o digo, a ti e aos outros que aqui estão presentes! Mas que tu respondas, ao menos, a isto que segue. Pode haver alguém que acredite existir forças demoníacas, mas que concomitantemente não acredite existir demônios? Não há. Agrada-me ao dar-me a resposta, mesmo penosamente, e por constrangimento daqueles que aqui estão presentes. Portanto, tu sustentas que eu acredito e que ensino existir coisas demoníacas; consequentemente, que tais coisas são novas ou não são, detenho-me no teu discurso, de qualquer maneira, eu acreditarei que existem realidades demoníacas e também juraste no teu gesto de acusação. Mas, se eu acredito na existência de coisas demoníacas, então é necessário, na verdade, que eu acredite que existam também os demônios. Não é assim? É precisamente assim. Suponho que tu estejas de acordo, do momento que não forneces uma resposta. E os demônios não dizemos que são deuses ou filhos dos deuses? Dizes sim ou não? Certamente. De conseguinte, se eu acredito, como tu sustentas, que existem demônios, e se os demônios são certos deuses, disto resulta exatamente aquilo que eu digo e que tu apresentas como enigma, e ainda fazendo por brincadeira; compreendo a tua afirmação de que eu não acreditando que os deuses existem, creio, em contraposição, que temos deuses porque acredito que existem demônios. Se, continuando, os demônios são certos filhos espúrios dos deuses, que nasceram das ninfas ou de outras mães das quais se comentam, então qual homem pode asseverar que existem filhos de deuses, mas que não existem deuses? Seria algo absurdo, exatamente se alguém acreditasse que existem filhos de cavalos e de asnos, ou seja mulas, mas não acreditasse que existem cavalos e asnos.'

Platão, Apologia de Sócrates, 27, D - E, em Platão, Todos os escritos, Bompiani, 2014, p. 33

E ainda temos em Platão:

'Talvez poderia parecer que seria absurdo o fato de que eu, privativamente, aconselho estas coisas, caminhando pelos arredores, e que me encarregue de tantas coisas para serem feitas, e que, ao contrário, em público não ouso, subindo à tribuna para falar à multidão, dar conselhos à Cidade por aquilo que é do vosso interesse. O motivo deste fato é aquele pelo qual me ouvistes dizer, muitas vezes, e de vários modos, ou seja que em mim se manifesta alguma coisa de divino e de demoníaco, aquilo que inclusive Meleto fazendo zombarias, escreveu no ato da acusação. Isto que se manifesta em mim, desde menino, é igual a uma voz que, quando se manifesta, sempre me diassuade de fazer o que estou ao ponto de executar, e ao invés, não me incita jamais para fazer alguma coisa. É precisamente isto que me afasta do propósito de ocupar-me com afazeres políticos.'

Platão, Apologia de Sócrates 31, C - D Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014 p. 37

Não é Sócrates que demonstra ser inteligente ou sábio, mas é o Demônio que age dentro dele e que o constrange para ser inteligente e sábio.

Deste ensejo vem a ser elaborado o conceito de "possessão diabólica", que os evangelhos cristãos se apoderaram fazendo-o como sendo deles, e difundido em todo o cristianismo, como um método para explicar o comportamento do homem que não está em sintonia com aquilo que os cristãos acreditam que deve estar no comportamento do homem. De conseguinte, sobre este modelo, são escritos os evangelhos cristãos.

Uma outra invenção de Platão é aquela que tenta demonstrar que o homem "age por vontade de Deus". Sempre usando da Apologia de Sócrates, o próprio Sócrates afirma agir por vontade e mando do deus.

Platão escreve:

"E para mim isto, como ainda vos digo, foi ordenado pelo Deus, através de oráculos e sonhos e de todos os modos com os quais, às vezes, também em outros casos, o destino divino manda o homem cumprir uma determinada coisa."

Platão, Apologia de Sócrates 33, C, Platão em Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 38

E ainda:

'Portanto, como vós vedes também, aconteceram a mim coisas que podem ser consideradas como males supremos. Ao contrário, o sinal de Deus não se opôs a mim, nem mesmo quando eu saía de casa, e nem quando eu subia aqui na tribuna, nem sequer durante o discurso; enfim em nenhuma ocasião enquanto eu me preparava para dizer alguma coisa."

Platão, Apologia de Sócrates 40, A - B, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 44

E ainda:

"Se eu vos dissesse que isto significaria desobedecer ao Deus e que por esta razão não seria possível eu viver com tranquilidade, vós não me acreditareis, seria como se eu "ironizasse" a mim mesmo." "

Platão, Apologia de Sócrates 37 E, 38 A, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 42

A invenção de Platão, provavelmente nascida de um jogo literário, se torna o modelo para o "filho de Deus". Sócrates é somente o enviado de Deus. O homem mais sábio do mundo, porque assim havia dito o Deus. Mas, com este "filho de Deus" há também as passagens dos filhos dos Deuses que preenchiam a mitologia mas que, diferentemente do enviado do filho de Deus, agiam eles próprios no mundo, isto é, por conta própria, e não caminhavam delirando com a frase "Em verdade, em verdade vos digo..."

Uma outra invenção de Platão é "a pobreza que serve como medida para a veracidade do filósofo."

Platão escreve:

"E se com estas coisas tirasse algum favorecimento e desse conselhos para receber alguma compensação em dinheiro, se houvesse algum motivo para proveito. De conseguinte, vós notais também que os meus acusadores, aqueles que me acusaram de outras coisas de maneira desavergonhada, não chegaram a um determinado ponto de falta de vergonha para conduzirem aqui uma só testemunha para provar que eu também, apenas uma só vez, teria exigido pagamento ou que teria pretendido alguma compensação. A testemunha apta para provar que eu digo a verdade, pelo contrário, eu a conduzo aqui: a minha pobreza!"

Platão, Apologia de Sócrates, 31, B - C, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 36 - 37

De forma que, digo a verdade porque sou pobre, ou sou pobre porque digo a verdade? Com este mecanismo surgem os cínicos. Antístenes foi quem instituiu os cínicos, aluno de Sócrates (assim se comenta) e, com frequência, também polemizava Platão. Quando os cristãos construíram a figura de Jesus, ficaram muito atentos na reprodução deste modelo platônico. Jesus, nos evangelhos, não possuía casa, não se sabe como conseguia vestimentas, e com que dinheiro comprava os alimentos. Jesus não trabalhava, era um vagabundo com dinheiro à sua disposição, mas sem riqueza para ostentar (salvo no episódio do perfume) porque este detalhe, no modelo platônico, o faria passar por "verídico": "Não quero dinheiro pelo que vos digo!" Porém, colocai-vos de joelhos diante de mim e reconhecei a mim o vosso proprietário, filho de Deus que é o proprietário do mundo

Platão constrói uma nova dimensão dos Deuses: os Deuses como reis e proprietários dos homens. O conceito de que os Deuses "governam o mundo" já existia bem antes de Platão, mas não existia o conceito de que os Deuses fossem proprietários (ou reis) dos homens que deveriam obedecer.

Platão escreve no Crítias:

'Naqueles tempos, os deuses eram divididos por sorteio, de região em região, por toda a terra sem que surgisse algum motivo para lides. Seria, de fato, inconcebível que os deuses ignorassem aquilo que a cada um deles convinha, ou mesmo que, bem cientes do que aos outros deuses era conveniente, alguns desejassem se apoderar daquilo que era do outro, sob penas de desentendimentos. Assim, aconteceu que eles obtiveram, por meio de sorteio feito pela Justiça, precisamente aquelas regiões que eles desejavam, e deste modo puseram-se a colonizá-las. Depois disso, da mesma maneira como o pastor faz com o seu rebanho, assim também eles amamentaram a nós os homens que estávamos na posse deles como rebanho. Com uma diferença, porém: os deuses não usavam corpos para obrigar outros corpos, isto é, do mesmo modo como os pastores usam para conter o rebanho, isto é, por meio de pancadas, mas quando muito do jeito como se conduz um animal doméstico: isto é, guiando-o de volta. Assim, exatamente, os deuses conduziam e dirigiam a estirpe humana: conforme o desenho deles, com a força da persuasão, mantinham o ânimo e quase dirigiam o leme. Mas, enquanto todos os outros deuses, que de um lugar a outro socorriam as terras obtidas por Sorte, Hefesto e Atena talvez porque tinham naturezas afins, porquanto eram filhos do mesmo pai, ou quiçá porque tinham as mesmas aspirações, movidos como estavam pelo amor ao saber e à arte - tiveram ambos a sorte de estarem nesta única região, que era a terra eleita, espontaneamente fértil de virtude e sabedoria. De forma que, nesta região fizeram nascer os homens virtuosos, e neles inspiraram a ordem política.'

Platão, Crítias 109 C - D, em Platão, Todos os escritos, Bompiani, 2014, p. 1422

Hefesto e Atena eram unidos pela arte da fusão do bronze. Acrescentando óleo de oliva ao fogo podia-se elevar a temperatura e atingir 1100 graus, o que levava o cobre ao ponto de fusão. A união dos dois Deuses é muitíssima antiga, no entanto era um fato ignorado por Platão. Platão inventa a forma dos Deuses como sendo "pastores dos homens", uma forma que depois será usada com exclusividade pelos cristãos que, então, reduzirão os povos à condição de rebanhos que devem ser alimentados.

Platão inventa o Demiurgo. O Deus criador que, para não entrar em conflito com o sistema religioso do seu tempo, afirma também que tal Deus criador criou inclusive os Deuses.

Platão escreve no Timeu:

- Criação dos planetas como instrumentos do tempo -

'Portanto, com base neste tal pensamento e raciocínio do Deus, em relação à criação do tempo, ou seja, para que o tempo se gerasse, foram feitos o sol e a lua e outros cinco astros, que têm o nome de planetas, para a diferenciação e a conservação dos números do tempo. E foram formados os corpos de cada um deles, Deus os colocou em órbitas nas quais se movia o circuito circular do Diverso. Sendo sete os astros, sete são as órbitas. Ele pôs a Lua em primeiro lugar ao redor da terra, o Sol em segundo lugar sobre a terra. Lúcifer, e aquilo que se diz sacro a Hermes, os fez prosseguir num ciclo com velocidade semelhante a do Sol, mas de maneira a ter direção contrária a ele. Por isso, o Sol, o planeta de Hermes e Lúcifer atingem o Sol e da mesma maneira um atinge ao outro da mesma maneira.
Ao que tange aos outros planetas, depois, onde os colocou e por quais razões, se alguém quisesse expor minuciosamente tudo, sendo argumento colateral, dar-nos-ia mais trabalho do que para expor o próprio motivo pelo qual foi realizado. Mas, sobre isto, talvez, pode-se fazer um exposição digna, havendo mais tarde tempo à disposição. Depois, a cada um dos astros, que estavam destinados a constituir o tempo, ele juntou à órbita, que a ele convinha, e depois que todos os corpos foram ligados com vínculos vitais, tornaram-se vivos e compreenderam aquilo que lhes era prescrito; então, seguindo o movimento do Diverso, que é oblíquo e passa através do movimento do idêntico, o dominou, e girando um deles na órbita maior e o outro na menor, aqueles da órbita menor giravam mais rapidamente e os da maior giravam mais lentamente. E para o movimento do idêntico os astros que giravam muito velozmente pareciam ter se juntado àqueles que giravam mais lentamente, ao passo que na realidade juntavam-se. Efetivamente, o movimento do idêntico, envolvendo todas as suas órbitas em forma de espiral, o motivo deste fato é que estes prosseguiam por dois caminhos diversos e em sentidos contrários simultaneamente, os planetas que se afastavam dele mais lentamente, que é bastante veloz, tiveram como resultado estar pertíssimo dele.
E para que tivéssemos uma medida clara da sua lentidão recíproca, bem como da velocidade, segundo as quais os planetas prosseguem em suas oito órbitas, o Deus no segundo círculo em relação à Terra, acendeu uma luz, que nós a chamamos exatamente de Sol, para que iluminasse todo o céu da maior maneira possível, e ainda para que todos os viventes para os quais a participação no número lhes era conveniente, conhecendo a rotação do idêntico e do Semelhante.
A noite e o dia, portanto, nasceram assim por estas razões, e representam o ciclo do movimento circular uno e sapientíssimo. E o mês se verifica quando a lua, depois de ter percorrido o seu círculo próprio, alcança o Sol; e o ano quando o Sol percorreu o seu círculo particular.
Em vez disto, sucede o contrário quanto aos ciclos dos outros planetas, porque os homens, poucos entre muitos, não têm conhecimento, não dão um nome, nem avaliam os relacionamentos que uns têm com os outros, por meio dos números; consequentemente, por assim dizer, não sabem que são tempo também os movimentos destes planetas, que são de quantidades desmedidas e admiravelmente variados. Todavia, não é possível compreender que o número perfeito do tempo realiza o ano perfeitamente, quando as velocidades de todos os oito ciclos, realizando-se ao mesmo tempo respectivamente, retornam ao ponto de início, medidas com o ciclo do idêntico, que prossegue de maneira uniforme.
Deste modo e por estas razões, foram gerados todos aqueles astros que percorrem os céus e possuem retorno, para que este cosmos pudesse ser muitíssimo semelhante ao Vivente perfeito e inteligível, para a motivação da imitação da realidade eterna.
E, todas as outras coisas, até a geração do tempo, foram executadas à semelhança daquilo que Ele imitava; mas, uma vez que o cosmos não compreendia ainda em si sobre todos os viventes que deveriam ser gerados, a falta disto constituía também uma dessemelhança do modelo.
Portanto, isto que faltava, Ele executou-o modelando-o de acordo com a natureza do modelo.
Como, de conseguinte, a inteligência contempla as ideias, que estão contidas no Vivente que é, tudo e quanto estão contidas nele, do mesmo jeito tal e qual pensou também que deveria haver nesse faltante, isto é, nessa lacuna.
E, assim, tais ideias são em número de quatro: uma é a estirpe celeste dos deuses: uma outra é a alada que circula nos ares; a terceira é a espécie aquática, enquanto a quarta é aquela que vai a pé e por terra.
A maior parte da ideia do divino realizou-a com o fogo, para que fossem muitíssimo luminosa e belíssima de ser vista. E fazendo-a semelhante ao universo produziu-a bem esférica e colocou-a na inteligência do círculo mais potente como sua seguidora, e então a distribuiu em círculo por todo o céu, para que fosse um ornamento verdadeiro a este e variegado na sua totalidade.
E a cada um destes, após, determinou dois movimentos: o uno em si mesmo e do mesmo modo, porque as mesmas coisas são sempre pensadas em si mesmas por cada um; o outro movimento, ao invés, adiante, porque cada um é dominado pelo movimento circular do idêntico e Semelhante. E ao que diz respeito aos outros cinco movimentos, em seguida, Ele fez cada um imóvel e fixo, afim de que cada um se tornasse ótimo em grau supremo. Desta causa foram gerados aqueles astros que não são errantes, vivos, divinos e eternos, os quais do mesmo modo e no mesmo lugar giram e estão sempre imóveis. Em vez daqueles que giram e têm um curso do gênero errante, foram gerados do modo como foi dito antes.
A Terra, depois, a que nos nutre, restrita ao redor do eixo que se estende pelo Universo, Ele a construiu como guardiã e artífice da noite e do dia, a primeira e a mais antiga entre os deuses, entre todos os que foram gerados dentro do céu.
Quanto às danças destes astros, posteriormente, e aos seus encontros recíprocos e aos percursos, nos seus próprios círculos, nos mesmos desenvolvimentos deles, e tal qual os deuses nas suas conjunções se avizinham reciprocamente, e tal qual se opõem entre eles, e atrás dos quais e nos quais tempos unos e alternados, que de nós se ocultam, e novamente reaparecendo, a quem não saiba fazer os cálculos, difundindo medos e indícios das coisas que deveriam acontecer em seguida: então, o discorrer destas coisas sem ter-se sob os olhos as imagens delas, seria um esforço inútil.
Mas, para nós, estas coisas são suficientes, e os nossos discursos a propósito da natureza dos deuses visíveis e gerados, chegamos, neste ponto, à conclusão.

*Geração dos deuses aos quais a mitologia se refere*

'Falar, em seguida, e assim conhecer a geração dos outros demônios, constitui a maior coisa das nossas capacidades: e é preciso acreditar naqueles que deles falaram precedentemente, porque estes, sendo descendentes dos deuses, como diziam, certamente deveriam conhecer os seus progenitores. Subsequentemente, é impossível não ter fé aos filhos dos deuses, embora falem sem demonstrações plausíveis e imprescindíveis. No entanto, desde que sustentam àquilo que se refere à família, eis que obedecendo a lei devemos crer neles.
Em vista disso, para nós, a geração destes deuses, de acordo com as pessoas que a eles se referem, assim seja e assim se confirme. De Gea e de Urano nasceram Oceano e Teti; e destes nasceram Fórcis e Cronos e Rea e quanto a estes isto é, de Cronos e de Rea, nasceram Zeus e Hera e todos os que nós sabemos que são chamados seus irmãos, e ainda outros mais que são descendentes destes mencionados'.

*O Demiurgo confia aos outros deuses criados o encargo de criarem os viventes mortais*

'Já que, de conseguinte, todos os deuses foram gerados, muitos vagam pelo céu, e outros são os que aparecem de maneira visível conforme o modo que querem, o Criador do Universo disse-lhes as seguintes palavras: "Ó deuses, filhos dos deuses, eu sou o Artesão e o Pai das obras criadas por meu intermédio, elas não se dissolvem, se eu não quero. De fato, tudo aquilo que está ligado pode se dissolver; porém, querer dissolver o que estava ligado de uma maneira bela e em boa condição, é maldade. Devido a estas razões, e já que foram geradas, não sois totalmente indissólúveis. Mas, não sereis dissolvidos e um destino de morte não vos tocará, uma vez que tereis a minha vontade em vosso proveito, que é uma ligação ainda maior e mais forte do que aquela que os mantém ligados desde o momento em que nascestes. Então, por consequência, aprendei isto que vos digo e vos mostro. Ainda faltam três gêneros de mortais que devem ser gerados. E, se estes não forem gerados, o mundo será incompleto. Efetivamente, não haverá em si mesmo todos os gêneros de viventes. Todavia, devem existir, desde que sejam perfeitos de maneira conveniente. Mas, se estes se gerassem e tivessem vida, com a minha obra, se tornariam iguais aos deuses. Porque, em virtude de serem mortais é que este universo estará verdadeiramente completo, dedicai-vos, conforme a natureza, para a constituição dos viventes, imitanto a minha potência, que efetuais na vossa geração. E ao que diz respeito àquela parte que é conveniente aos viventes, que ela tenha o nome comum com os imortais que é chamada de divina e que governa naqueles que querem seguir a justiça e, a vós eu fornecerei o sêmen e o princípio. No restante, vós compondo o mortal no imortal, produzi os animais e gerai-os e, assim, fornecendo a eles o alimento, criai-os, e quando perecerem acolhei-os novamente."

*Criação e destinação das almas singulares*

'Ele disse estas coisas, e novamente na cratera de antes, na qual tinha fundido harmoniosamente e misturado a alma do universo, na direção das coisas que estavam mais avançadas em relação às usadas primeiramente, misturando-as quase como da mesma maneira, mas não precisamente da mesma maneira, mas em segundas e terceiras purezas.
Depois que constituiu tudo, dividiu em almas, em tantos números tais como eram os astros, distribuiu cada uma das almas a cada um dos astros, e colocou-as de tal modo como sobre um veículo, mostrou a elas a natureza do universo e a ela falou sobre as leis fatais. Disse que a primeira geração seria estabelecida como sendo uma só para todas, para que nenhuma recebesse Dele menos do que era devido, e que em todas e em cada uma, em relação aos órgãos do tempo, fosse assim conveniente; deveriam produzir o mais religioso dos animais. E uma vez que a natureza humana é dúplice, o melhor gênero seria aquele o qual, após, seria chamado de sexo masculino.
E quando as almas tivessem a necessidade de enxertarem-se nos corpos, e ao corpo delas alguma coisa se acrescentasse e uma coisa se separasse, seria necessário que destas paixões violentas se gerasse um sentimento congênito em todas, e amor misturado com prazer e dor, e, além disto, medo e ira e todas as outras paixões que a estas seguem, e aquelas que têm natureza contrária. E se as almas dominassem tais paixões, viveriam na justiça; se, ao contrário, elas fossem as dominadas, viveriam na injustiça.
E aquele que vivesse bem o tempo que lhe fosse destinado, ao retornar novamente à habitação do astro que lhe é afim, terá vida beata e conforme a sua natureza. Mas, quem falhasse nestas coisas, na segunda geração passaria de uma vida à outra com a natureza de mulher. E se nem mesmo assim, nessa condição, vier a desistir do mal, de acordo com a semelhança do tipo de maldade nele gerada, sofreria a mutação correspondente à fera; e continuando na mutação, não cessaria nos afãs, antes dele, perseguindo a revolução do idêntico e do Semelhante, que tem em si mesmo, vencendo com a razão a grande massa que, também sucessivamente, lhe foi acrescentada proveniente do fogo e da água e do ar e da terra, massa do tumulto e irracional, vindo a readquirir da forma da primeira e ótima constituição.
Depois que Ele promulgara todas essas leis a todas elas, para que não houvesse como causa a maldade futura de cada um, seminou algumas sobre a terra, outros sobre a lua, outros ainda sobre todos os instrumentos do tempo.
E aos deuses jovens, confiou o que se seguia à tal seminação, ou seja, o encargo de plasmar os corpos mortais e isto ainda ao que restava, ou seja, o que ainda era necessário acrescentar à alma humana e originando isto e tudo o que disto deriva, que dominassem e governassem o vivente mortal na medida do possível, do melhor e mais belo modo, pelo menos enquanto ele não se tornasse em si mesmo a causa dos seu próprios males.
E depois de ter comandado estas coisas, Ele permaneceu no seu estado próprio, no modo conforme a sua natureza.

*Criação dos corpos mortais*

'E enquanto Ele permanecia naquele seu estado, os Filhos, tendo entendido a ordem distribuída pelo Pai, obedeciam a ele, e, assumido o princípio imortal do vivo mortal, imitando ao seu Artífice, captaram como uma doação do cosmos, pelo pacto que em seguida deveriam restabelecer em partículas de fogo, de terra, de água e de ar, uniram-nas conjuntamente, não com aquelas ligações indissolúveis com as quais eles estavam circunscritos, mas conectando-as com pregos invisíveis em decorrência da pequenez deles, e de todas as partículas foram feitas uma unidade para cada corpo singular, ligaram-nas os círculos da alma sendo esta imortal no corpo que está sujeito aos fluxos e influxos'.

Platão, Timeu, 38 D - 43A, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014 p. 1367 - 1371

A criação de Platão tende à elaboração melhor e à formação dos textos da bíblia. Isto porque Platão tenta envolver a filosofia inteira, anterior a ele, transformando a realidade em produto da vontade do seu Demiurgo platônico.

O Deus da bíblia é um Deus proveniente de um povo arrogante e culturalmente analfabeto. A bíblia reúne nos seus textos um Deus que cria tudo com um toque de varinha mágica. Ao contrário, Platão procura ser mais sofisticado. Ele argumenta de um modo mais apurado, de modo que o Deus criador, feito por Platão, é quase um construtor.

O escopo da ideia do Demiurgo, o Deus criador, é precisamente privar os homens de cada capacidade, de cada aptidão na existência. De acordo com o Demiurgo o homem é uma mercadoria criada por Deus. O homem não tem direitos, não deve reivindicar nada, deve somente se submeter e obedecer aos "filósofos metafísicos" que dizem aos homens o que o Deus criador deseja deles.

Em Platão o homem já não é mais o cidadão de antes, o sujeito social, o homem deve obedecer àquele que o criou e também aquele que o comanda. Em Platão o homem vil virá-a-ser uma mulher (nota deste tradutor: aqui Claudio Simeoni se refere à ideia da reencarnação criada por Platão. Em outras palavras, Platão rebaixa o sexo feminino a um castigo quando o homem volta a reencarnar), ou seja, uma espécie de ser humano em categoria inferior, que deve ser privada das prerrogativas que Platão reconhece, inclusive, pertencentes somente aos homens.

Toda a filosofia pré-platônica desaparece. De modo que, o homem passa a ser visto como uma criação de Deus e ninguém pode dizer o contrário. O homem passa a ser um escravo de Deus e das leis que Deus estabeleceu, as quais Platão descreve demonstrando conhecer exatamente o que Deus quer do homem.

Com esta ação Platão quer ser reconhecido o patrão dos homens, com o direito de dominá-los, porque ele sabe o que Deus quer e como Deus criou o homem.

Platão lança a ideia da eugenia para selecionar os homens que têm serventia ao Estado e a ideia do domínio da sociedade, da qual ele se imagina como sendo o patrão.

Platão escreve na "República":

*As astúcias do legislador para manter pura a raça dos Conservadores*

"É precisamente assim - acrescenta - De um outro lado, caro Glaucone, relacionar-se assim intimamente, sem uma regra, e agir como um acaso, numa Cidade de homens felizes não seria uma coisa sacra e portanto seria proibida pelos governantes."
"E de fato não é justo", intima
"È claro, portanto, que o passo seguinte consistirá na instituição de matrimônios dos mais sagrados possíveis: sacros no sentido particular de serem úteis."
"Precisamente".
"E em que condições poderiam ser particularmente úteis? Diz-me, só um pouco, Glaucone: eu vejo na tua casa parelhas de cães de caça e multidões de pássaros apreciáveis, e, por Zeus, tu nunca notaste como copulam e como criam os que deles nascem?"
"E como?", perguntou.
"Antes de qualquer coisa, entre estes exemplares, sendo todos de uma raça selecionada, não concordas talvez que alguns são melhores do que outros?"
"Sim, há."
"E, então, permites que todos procriem, indiferentemente, ou apreciarias que procriem preferencialmente os melhores?"
"Os melhores"
"E quem, particularmente: os mais jovens, os mais velhos ou aqueles que estão em plena maturidade física?"
"Sem dúvida aqueles que estão em plena maturidade física."
"E se os cruzamentos não acontecessem conforme estas regras, tu não pensas que a raça dos teus pássaros e dos teus cães estariam numa decadência rápida?"
"Penso que sim", disse.
"E acredita - continuara - que seja diferente para os cavalos e para os outros animais?". "Seria absurdo", ele admitiu. "Ah, caro amigo." - exclamara - nossos governantes deverão ser bem excelsos, se isto que foi dito, vale também para o gênero humano".
"É exatamente assim - disse - Mas por quê?"
"Porque - respondera - buscar-se-ão não poucos remédios. E deste modo, conforme este nosso juízo, bastaria um médico, nem mesmo tão experiente, quando se trata de corpos que não precisam de remédios, mas que simplesmente querem se sujeitar a uma dieta, e estamos também certos de que se buscaria outro com valor bem diverso, no caso de precisarmos verdadeiramente de uma cura".
"É verdade, mas com que escopo tu dizes isto?". "A isto - respondera - há o risco de que os nossos governantes são forçados a buscarem mentiras e enganos contínuos no interesse dos seus próprios administrados; e já temos reconhecido que todas estas mentiras, quando tem a finalidade para o bem tem o valor de remédios".
"E com justa razão, reconhecera - "É exatamente por essa "justa razão" que, ao que tange aos matrimônios e às criações dos filhos, são fatos que devem ser realizados com a maior frequência possível".
"E como?"
"Se levamos em consideração - respondera - tudo o que já admitimos, convém que os homens melhores copulem com as melhores mulheres, com a maior frequência possível e que, ao contrário, os piores se unam com as piores, o menos que for possível; e desejando-se que o rebanho seja realmente de raça então busca-se que os nascidos dos primeiros citados sejam os amamentados; e não, ao invés, os outros. E esta trama, no seu complexo, deve ser mantida em obscuro a todos, exceto aos governantes, se for desejado que o grupo dos guardiães esteja seguro das rebeliões, da maior maneira possível".
"Excelente", disse.
"De conseguinte, estabeleceremos oficialmente as festas nas quais as futuras esposas e os seus pretendentes se encontrarão juntos; nestas ocasiões serão celebrados sacrifícios e serão elaborados, pelos nossos poetas, hinos que se adaptem às núpcias que estarão sendo realizadas. O número total dos matrimônios deixaremos aos governantes, que decidirão, e estes terão como objetivo a manutenção da população num nível constante, de modo que, levando-se em consideração as guerras, as epidemias e todas as outras calamidades do gênero, para que o Estado não seja nem excessivamente muito povoado, nem muito escasso de homens".
"Justo", disse.
"Eu acredito que dever-se-á também ser encontrada alguma forma de sorteio disfarçado que faça com que a parte dos menos inteligentes, do qual falamos, incriminem a união que lhes cabe não por causa dos governantes, mas por causa da sorte."
"Não serão truques, certamente, pela pouca capacidade intelectiva deles" observou.

*A escolha dos indivíduos e do tempo melhor para a cópula*

"E aos jovens que se distinguem na guerra ou em outros campos, é preciso conferir além dos prêmios e das outras homenagens também a possibilidade que os permite deitar com as mulheres, com a maior frequência possível, para que com este subterfúgio, a maior parte dos filhos nasçam do sêmen deles".
"Justo".
"Portanto, à medida que os filhos vêm à luz encontrarão acolhimento das comissões dos magistrados dispostas a isto, estas podem ser formadas somente por homens, ou só de mulheres, ou também podem ser mistas, porque as funções do Estado são comuns aos homens e às mulheres".
"Concordo".
"E estas comissões, no meu entender, distribui os filhos dos melhores, no entanto deveriam levá-los a asilos localizados em partes isoladas da Cidade onde habitam nutrizes especiais. Ao contrário, os filhos da pior parte, ou também aqueles da parte melhor fisicamente malformados, por razões de conveniência, viriam a ser escondidos em um lugar inacessível e desconhecido".
"Não há escolha - une-se à ideia de Platão - se o desejo for o de conservar a raça pura dos Administradores".
"De conseguinte, os magistrados encarregados da nutrição deles terão o cuidado de conduzir as mães no período da amamentação a esse asilo, colocando, porém, em ação todos os artifícios possíveis para que nenhuma delas esteja em condições para reconhecer o seu próprio filho, tendo da mesma forma o cuidado de conseguir outras mães, quando estas não tiverem leite suficiente. Entre os encargos destes magistrados haverá também o de controlar que o período de amamentação não se prolongue muito no tempo, e o encargo de entregar às nutrizes e às governantas o ônus de cuidar dos pequenos à noite e em qualquer outra circunstância".
E, o outro pergunta: "Certamente tu concedes um tratamento beneficente às mulheres dos Tutores que estão para se tornarem mães?"
"Tenho os meus bons motivos para isso - retrucou - Mas passemos ao segundo ponto, conforme estávamos predispostos. Tínhamos falado que os filhos deveriam ser gerados por quem estivesse em pleno vigor físico".
"É verdade".
"Pois bem, concordas comigo que a flor da vida dure para a mulher vinte anos e para a homem trinta?"
"E quais são esses anos?", perguntou
No nosso Estado entende-se que uma mulher está na idade fecunda dos vinte até o quarenta anos; um homem, ao invés, gerará para o Estado no momento em que atingiu o ponto máximo do seu percurso, até a idade de cinquenta e cinco anos".
"Seja num caso seja no outro - concorda - neste período de tempo atinge-se o cume do vigor físico e intelectual".
"Portanto, se alguém abaixo ou acima deste limite de idade, colocasse na mente de gerar filhos para a sociedade, a sua atitude a consideraremos como um pecado contra a vontade dos deuses e contra a lei. Em verdade é como se tivesse gerado para o Estado um filho, o qual, uma vez que também escapa do controle público, será de qualquer modo fruto de uma concepção não consagrada e não bendita pelas preces dos sacerdotes, sacerdotisas e que a Cidade inteira só exalta na ocasião de cada casamento, pois é dos bons que surge uma prole ainda melhor, e de quem serve com alguma utilidade ao Estado e gera filhos ainda mais úteis. Aquele outro filho, ao contrário, terá sido concebido na obscuridade, fruto de uma intemperança reprovável".
"Justamente", aprovou o outro.
"E a mesma lei - acrescentara - vale inclusive no caso em que um homem na idade permitida para a geração se una a uma mulher que também esteja na mesma idade, mas sem que o magistrado os tenha uinido pelo matrimônio. Digamos, com efeito, que de tal modo ele introduz na Cidade um filho ilegítimo e não conforme estabelece a religião".
"Justíssimo", disse.
"Quando, penso eu, homens e mulheres saíram da faixa de idade na qual é permitido gerar, terão sim a liberdade para copularem com quem quiserem (mas não com a filha, a mãe, as netas e as ascendentes da mãe, e no caso das mulheres com o filho, com o pai e com os ascendentes e descendentes deste), mas, em cada caso, aconselha-se a eles para tomarem todo cuidado para que nem mesmo um concebido veja a luz, e se de qualquer maneira devesse nascer, não lhes havendo outra possibilidade, que seja tratado como se para ele não houve jeito de alimentá-lo".

*A comunhão dos filhos e a sua utilidade para o Estado*

"Também isto - reconhece - está bem esclarecido. Mas, os pais, os filhos e todos os parentes que tu mencionaste há pouco, como se reconhecerão entre eles?"
"De nenhum modo - eu respondi - Mas, a partir do dia em que um se casa, as crianças que nascem no sétimo ou no nono mês, serão chamadas de filhos se forem machos e filhas se forem mulheres, e aquele, pela vez deles, o chamarão de pai; e além disso, os nascidos destes chamará de netos, e para eles os da sua geração serão avôs e avós. Enfim, os jovens que viram a luz no período em que as mães e os pais geravam, se considerarão irmãos e irmãs entre eles e, portanto, não poderão ter relações sexuais. A lei, todavia, não proíbe que convivam, uma vez que a sorte assim disponha e a Pythia não desaprove".

Platão, República, 459 A - 461 E, Platão, todos os escritos, Bompiani, 2014, p. 1182 - 1195

Platão considera as pessoas gados para o seu estado. Aquele estado em que ele comanda e todos devem obedecer inclusive usando de subterfúgios. É um selecionar as pessoas como bestas para obter o mesmo resultado que se deseja obter com as ovelhas, dos cães e dos cavalos, só que aqui não se trata de corpos físicos, mas se trata de selecionar também e sobretudo o modo de pensar. Este sistema de Platão será introduzido no cristianismo, que tomará as crianças pequeninas e as encerrará num convento, para produzir pessoas que não podem mais enfrentar a vida se não acreditatem em Deus e Jesus. Em outros termos, identificando-se em Deus ou em Jesus e reproduzindo os delitos devastantes que têm destruído a sociedade.

A seleção da raça é o objetivo de Platão que se unirá à ideia do "povo eleito" ou da "raça superior" com o direito de dominar todas as outras raças. Uma raça de servos selecionada por um patrão ou por patrões que, como os Deuses decidem, quais são os relacionamentos sexuais que devem existir, quando e com quem, para o "bem supremo" de um estado canalha parido pela doença mental de Platão.

Eugenia malvada e perversa que se tornará a eugenia do positivismo primeiramente, e do nazismo depois, que levou centenas de milhares de pessoas ao hospícios, aos campos de concentração e aos campos de extermínio. A ideia do ditador, o ideólogo dos ditadores, Platão que devasta a sociedade dos homens, porque é incapaz de viver como homem entre os homens, mas necessita propagar o seu delírio de onipotência.

Platão intensifica o conceito de que a mulher é uma "porcaria" ou "abominação" do gênero humano.

Sobre as mulheres, Platão escreve no Timeu:

'Agora parece que chegamos ao final daquilo que foi proposto no início, ou seja, discutir acerca do universo até à geração do homem. No que se refere aos outros animais, como pela vez deles nasceram, daremos apenas uma breve notícia, sem nos prolongarmos nisto. Deste modo, de fato, podemos acreditar que mantivemos a medida justa nos discursos feitos sobre estas coisas.
Eis, consequentemente, aquilo que devemos dizer sobre este aspecto.
Dos homens que nasceram, quantos foram vis e passaram a vida de uma maneira injusta, segundo um discurso verossímil, na segunda geração se transformaram em mulheres. E naquele tempo, os deuses idealizaram o amor da conjunção, constituindo um ser vivente dotado de alma dentro de nós, e um outro nas mulheres, e produzindo um e outro do modo que segue.
O canal por onde escorre a bebida, lá onde o líquido passando pelos pulmões, abaixo os rins, entra na bexiga para ser expulso para fora, no ar, os deuses o colocaram em comunicação com a medula através dos canais, que da cabeça para a nuca é condensado em direção à espinha dorsal, e que nos discursos acima chamamos de sêmen. Tal medula, depois, porque é animada e enconttrou respiro naquele ponto, temos que nesse ponto onde encontrou respiro, infunde o desejo vital da emissão e faz surgir o amor do gerar.
Por isso, nos homens, o órgão genital tem como resultado o não ser obediente e é prepotente, como um animal que não quer sentir a racionalidade e busca ter o predomínio sobre tudo com as suas paixões descontroladas.
E por sua vez, nas mulheres, as que são chamadas de matriz e útero, por estas mesmas razões são como um animal desejoso para gerar os seus filhos, o qual quando fica sem o fruto, por muito tempo após a sua estação, suporta-o mal e se irrita e vai errando em cada parte do corpo, obstruindo as vias de saída do ar não permitindo o respiro, leva à dificuldade extrema e produz doenças de todos os gêneros. E isto dura até que o desejo e o amor dos dois sexos, juntando-se na unida conjunção, são incitados a colherem um fruto como o das árvores e semear a matriz, quase como num campo arado seres viventes invisíveis devido à sua pequenez e ainda não formados, e depois, separando-os, faz com que se tornem grandes nutrindo-os por dentro, e em seguida a isto, colocando-os à luz, para que levem a cabo a geração dos viventes.
As mulheres, portanto, e todo o sexo feminino, tiveram esta origem.'

Platão, Timeu 90 E - 91 E, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 1409 - 1410

As mulheres, em Platão, são Seres vis que devem ser perseguidas e submetidas. Elas são consideradas pessoas inferiores que assim se tornaram, isto é merecedoras de desprezo porque são indivíduos machos que se transformaram em mulheres (nota deste tradutor: Aqui, Claudio Simeoni, se refere à ideia da reencarnação de Platão segundo a qual quando nasce uma mulher, há a indicação de que foi um homem que cometeu pecados na outra vida). Este modo como a mulher é pensada por Platão, coincide com o de Paulo de Tarso e se torna o pensamento social cristão que dominará a sociedade civil por dois mil anos.

Platão cultiva o ódio aos poetas porque as emoções não podem dominar o homem.

Platão escreve, na "República":

*A poesia falta com a verdade, refere-se à parte pior da alma e corrompe os bons*

"Além disso, está evidente que o poeta é imitador, pela sua natureza ele não é levado em direção àquela faculdade da alma, nem a sapiência da alma foi feita para ele, dado que ele está em busca do apoio do público; ao contrário, lhe agradará a parte desordenada e volúvel, porque assim é mais fácil imitar".
"Certamente"
"Neste ponto temos bons motivos para criticar o poeta e colocá-lo em confronto com o pintor. Como o pintor, de fato, o poeta faz obras de valor escasso se nos reportamos à verdade; e ainda, como o pintor, volta-se a uma parte da alma que não é a melhor. Assim, isto já é suficiente para justificarmos o fato de que não o acolheremos na Cidade que pretende ter boas leis.
Mas um outro motivo, do não acolhimento, é que efetivamente, ele acorda, alimenta esta parte da alma que não é a melhor, e, revigorando-a , o poeta sufoca a faculdade racional exatamente como acontece na vida política, quando um, dando força aos piores, acabam por entregar o Estado às mãos deles e consequentemente sacrificam os melhores. Pelos mesmos motivos podemos afirmar que, na esfera privada, o poeta imitador incute na alma de qualquer um a forma ruim de governo, seja dando crédito à parte privada da razão - a qual seja como for não sabe nem mesmo distinguir o mais do menos, tanto isto é verdade que os mesmos objetos em determinado momento reputa-os grandes, e em outro momento pequenos -, seja contruindo imagens de imagens, com isto se mantém a uma grande distância da verdade".
"Não há dúvidas".
"Todavia, não contestamos ainda na poesia o cume mais grave para a acusação. O aspecto mais inquietante, de fato, é que ela, com exceção de pouquíssimos indivíduos, consegue mesmo corromper as pessoas do bem".
"E como não poderia ser grave a acusação se indubitavelmente o poeta se comporta de tal modo?"
"Escuta-me e reflete. Tu sabes que o mais sensível de nós, quando escuta a poesia de Homero, ou de um outro trágico qualquer que imita um dos tantos heróis prostrados pela dor, e que se prolongam em litanias lamentosas com prantos, ou de pessoas que cantam os seus males batendo a cabeça, experimentam satisfação com isto e se abandonam para seguir tais personagens, sofrendo com eles, e ao invés, exaltam com convicção que é bom poeta, aquele que mais do que os outros saiba dispô-los em tal estado de ânimo".
"Eu sei. E como!"
"Mas quando nos golpeia um luto em família, vê bem que elogiamos exatamente o contrário, isto é mostramos serenidade e força de ânimo, como se este comportamento fosse de homens, e o outro comportamento que elogiavam vem a ser o de mulherzinha".
"Entendo", disse.
"E então - prossegui - o que existe de belo num elogio de tal gênero? Onde está o sentido de ver um homem tal, modelo daquilo que um homem não deve ser ou deve envergonhar-se de ser, e em vez de ter horror se comprazem em louvar o poeta?"
"Por Zeus! - exclamou - Não parece ser realmente racional".
"E ainda assim, observa, que o considero sob uma outra perspectiva".
"Qual?"

*De que modo a tragédia, a comédia e a poesia corrompem a personalidade dos homens*

"Deve considerar que os poetas proporcionam satisfação e gratificação exatamente àquela parte que, com grande esforço, nós procuramos controlar nos momentos de luto familiar e que não desejaria outra coisa a não ser prantos e lamentos, a qual deseja saciar-se, sendo por natureza atraída por eles. Enquanto isso, a nossa faculdade melhor, não estando educada suficientemente ao hábito do raciocínio, afrouxa o controle desta parte lamentosa, porque está empenhada em olhar novamente os sofrimentos alheios, sem em nada considerar escandaloso que um homem, que se declara virtuoso, se lamente de um modo que não demonstre postura; e ao invés, deste homem tece elogios e o tolera. Essa parte francamente tem a pretensão de extrair disto um divertimento: ao qual não pretende opor a renúncia, considerando com desprezo o poema inteiro. No restante, conforme o meu juízo, a poucos indivíduos é fornecida a compreensão de que cada um deve ter a necessidade, conforme a sua parte particular, de fazer das experiências alheias o seu próprio tesouro; e além disso, não é totalmente fácil conter a comiseração da suas próprias desgraças depois de ter sido a comiseração alimentada e potencializada por aquelas dos outros".

Platão, República 605 A - 606 C, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 1314 - 1315

Para Platão os poetas são odiosos porque levam o ânimo do homem a excitar-se com desejos e sentimentos que são contrários ao nivelamento emotivo, o qual Platão quer impor a todos os homens submissos.

Platão elabora o conceito do uso da filosofia para dominar o homem.

Platão escreve em "Amantes":

"E então, com referência aos cães, aqueles que são capazes de se tornarem os melhores, sabem também castigá-los de um modo correto?"
"Sim".
"Portanto, a mesma arte torna-os melhor e os castiga corretamente?"
"Parece-me", disse
"Pois bem, a arte que os torna melhor e os castiga corretamente, coincide com aquela que distingue os bons dos maus, ou é uma outra?"
"É a mesma", respondera.
"Queres, então, admitir também que em relação aos homens a arte que os torna melhores coincide com a arte que os castiga de modo correto, e que distingue os bons e os maus?"
"Certamente", disse.
"Mas a arte que vale para um, valerá também para muitos, e aquela que vale para muitos valerá também para um somente?"
"Sim".
"É assim para os cavalos e todos os outros seres?"
"Confirmo".
"Qual é, portanto, a ciência que castiga de modo correto aqueles que, na Cidade, criam desordem e violam a lei? Não é talvez a arte judiciária?"
"Sim".
"Pois bem, aquela que denominas justiça é uma outra ou também esta?" Não, é esta".
"Portanto, a arte com que se castiga corretamente coincide com aquela com a qual se distinguem os bons dos maus?". "Sim".
"Mas quem conhece um, conhecerá também muitos?"
"Sim".
"E quem não conhece muitos, não conhecerá pelo menos um?".
"Confirmo".
"Se, então, um cavalo não fosse capaz de distinguir os cavalos bons dos maus, não conheceria pelo menos a si mesmo?".
"Admito-o".
"E se um boi não soubesse distinguir os bois maus dos bons, ao menos não conheceria a si mesmo?"
"Sim", disse.
"E seria assim também se fosse um cão?"
"Convém".
"Então, se um homem não consegue distinguir os homens bons dos maus, não estará talvez, em condição de saber, ao menos, em relação a si mesmo se é bom ou mau, do momento em que ele também é um homem?".
"Admito-o"
"Mas, o não conhecer a si próprio é ter temperanças, ou não?". "Não é ter moderações".
"E conhecer a si mesmo é ter moderações?".
"Estou de acordo", disse. "Portanto, as inscrições de Delfos, ao que parece, convida às práticas da temperança e da justiça".
"Parece".
"E é precisamente com esta que sabemos também castigar de modo correto?"
"Sim".
"Consequentemente, graças a isto é que sabemos castigar de modo correto, é a justiça, graças a isto estamos em condições de conhecermos a nós próprios e aos outros, é a temperança?".
"Parece", disse.
"Por isso, justiça e temperança são idênticas?".
"Parece".
"E assim, também as Cidades, são bem governadas, quando os culpados são punidos?"
"Dizes a verdade" respondera.
"E esta é a arte política?" Admite-o.
"Mas quando somente um homem governa corretamente uma Cidade, talvez não é denominado tirano ou rei?" "Certamente".
"Portanto, governa com arte real e tirânica?"
"É assim".
"Pois bem, também estas artes são idênticas àquelas?".
"Parecem".
"Mas quando somente um homem governa uma casa de modo correto, qual nome lhe é atribuído? Talvez, não será, o de administrador e patrão?".
"Sim".
"Então, também este administrará bem a casa graças à justiça, ou com outra arte qualquer?".
"Com a justiça".
"Portanto, são a mesma coisa no que resulta em rei, tirano, político, administrador, patrão, sábio e justo. E uma só é a arte real, tirânica, política, despótica, administrativa, a justiça, e também a temperança?".
"Parece que é assim", disse.

Platão, Amantes, 137 C - 138 D, Platão, Todos os escritos, Bompiani 2014, p. 665 - 666.

E finalmente Platão agride a democracia a favor da sua ditadura, a ditadura dos filósofos que produzirá os modelos de sociedade teocrática.

No vértice desta ditadura estão filósofos como Platão, ou como Ratzinger, depois os imperadores e quem usa o exército para vexar os cidadãos, e enfim os cidadãos que devem obedecer por meio de uma multidão de escravos que devem servir os filósofos teólogos (metafísicos), bem como aquele que usa o exército para se assegurar do poder. A ditadura é o objetivo de Platão e toda a sua filosofia dá legitimação à ditadura contra os direitos do homem.

Tudo em Platão mostra desprezo aos homens. Homens que Platão tenciona torná-los miseráveis, como ele próprio é um miserável em relação ao homens. Platão é o patrão dos homens. Aquele que determina como a sociedade deve ser. Aquele que diz o que pensa o Deus-patrão, e ele pensa ser "o homem sábio" a quem todos devem se submeter. As suas "afirmações sobre ciência" são somente alucinações, delírios de sua fantasia, de um homem que inventa uma história com a qual procura tornar legítimo o domínio do homem sobre outro homem.

Do ano 400 d.c. temos visto uma sociedade tripartida, de Platão, que se concretizou. Os que chegaram ao poder são os teólogos cristãos, os filósofos metafísicos, estes submeteram imperadores e reis que como os seus exércitos defenderam os seus domínios, e as pessoas foram divididas entre indivíduos úteis aos teólogos, o terceiro estado, úteis aos reis e aos imperadores e um sub-proletariado de camponeses famintos que Platão indicava nas pessoas dos escravos como sendo o objeto do seu desprezo.

Vale a pena pararmos um pouco para que possamos perceber o ódio de Platão pela democracia, esse ódio será a base da ditadura do Deus cristão contra o gênero humano.

Platão escreve:

*A democracia se realiza quando os pobres prevalecem sobre os ricos*

"Agora - retomando - quem comanda reduziu os seus, que estão submetidos, a tais condições exatamente por estes motivos. E se olharmos para eles e para os seus filhos, não poderíamos, talvez, dizer que são jovens que pertencem à vida da desordem, negligentes no corpo e no ânimo, débeis e imbecis tanto diante do prazer quanto da dor?"
"Como não?".
"Por outra parte, eles próprios que não se ocupam de outra coisa senão do dinheiro, talvez reservem um cuidado maior à virtude do que aqueles que são pobres?"
"Não certamente".
"E,depois, entre os homens assim arruinados, quando se encontram muito próximos patrões e súditos, ou em uma marcha, ou em outras reuniões, ou em procissões religiosas, ou em expedições militares, ou simplesmente como companheiros em navegações, ou soldados companheiros, ou ao dividirem os mesmos perigos e um olha para o outro, neste caso não serão os pobres a serem desprezados pelos ricos?"
"Antes, o pobre que de costume é um homem sem dinheiro e queimado pelo sol, quando vem a ser enfileirado na batalha ao lado do rico que, ao contrário tem a palidez daquele que cresceu ao abrigo longe do sol, e mais pesado por muita gordura, em excesso, e o vês ofegar e com grande dificuldade, não penses que sejas levado a considerar que se estes ricos como tal se tornaram é somente pela sua indolência? E depois, quando os pobres se encontrassem entre eles, não acreditas que um diria ao outro: "Estes homens nunca serão dos nossos: gente do nada!"?"
"Assim acredito - respondera - que se comportem".
"Portanto, como para um corpo doentio basta um nada que venha de fora para causar uma desgraça, e às vezes também sem influências externas constitui em si uma grande confusão, do mesmo modo para um Estado que se encontre em condições como as desse corpo já é suficiente um acidente qualquer, mesmo que irrelevante, para que caia doente atacado por uma luta interna, quer seja porque uma facção chama reforços de outros estados oligárquicos e uma outra facção reforços de estados democráticos, quer seja porque inclusive na ausência de intervenções externas, o Estado de vez em quando está em revolução".
"É exatamente assim".
"No meu parecer, a democracia se instaura quando os pobres levam a melhor, e os da facção oposta, em parte são exterminados, ou em parte exilados. Com os restantes são divididos de forma equânime os encargos e os poderes, na maioria das vezes extraindo-se a sorte".
"É assim - disse - que se instaura a democracia, seja pela imposição das armas, com a força, seja pela deserção de uma parte, tomada pelo temor".

*Individualismo, anarquia e liberdade desenfreada são os aspectos típicos do homem democrático*

"Agora - perguntei -, de que modo eles estão organizados? E quais são as características típicas desta forma de governo? É evidente que o homem com tais traços característicos resulta no homem democrático".
"Claramente", disse
"Não acreditas que o homem democrático seja, antes de qualquer coisa, um homem livre, e que o próprio Estado seja permissivo em cada aspecto seu, e que com isto haja liberdade de expressão e a possibilidade de se fazer o que mais agrada?"
"Pelo menos assim se diz", respondeu. "E sabe-se que aonde existe tolerância excessiva, cada um organiza a sua vida de acordo com a sua regra particular, com discernimento completo próprio."
"É bem conhecido".
"Então, num regime tal, seriam encontrados especialmente homens de todos os tipos e espécies".
"Sem dúvida!"
"Estas vendo - exclamei - que esta acaba sendo a melhor das formas de governo! Um Estado tal vivaz, com todos os costumes, aparentaria ser magnífico igual a um manto chamativo bordado com flores de todos os gêneros. E talvez - acrescentei - também este Estado seria avaliado como sendo belíssimo pela maioria, que se comportam como meninos e as mulheres são as que admiram vestimentas de cores variadas."
"Não há dúvida" ele admitiu. E eu: "Meu caro, para um Estado tal é também cômodo definir uma forma de governo".
"Por quê?"
"Porque em decorrência da liberdade que vige nele, como estamos argumentando, seria como se houvesse um ânimo para fundar uma Cidade, convém, decididamente, dirigir-se a um Estado democrático, e é como conduzindo-se ao mercado dos governos, escolher o regime que mais agradar, e uma vez escolhido colocá-lo em ação".
"Por certo - admitiu - que a ele não haveria falta de modelos".
"E - continuei - o fato de que, numa cidade tal como essa, não exista algum desejo para assumir a responsabilidade do comando, nem mesmo se houvessem todos os dotes para isso; e ainda tampouco seria obedecido, senão os desejos, nem a responsabilidade para combater quando os outros combatem, ou para estar em paz quando outros estão, a não ser que tu não queiras estar em paz; e acrescentado a isto, também se uma lei te proibisse de ter postos de comando ou de fazer parte da magistratura, isto contudo, se a coisa te agrada, tu não deverias abster-te; pois bem, à primeira vista, tu não dirias que esse é um portentoso e doce sistema de vida?"
"Talvez - disse - ao menos acerca das primeiras"
"E além do mais, não é indubitavelmente excelente a brandura de certas sentenças? Ou não vês residindo tranquilos e a passearem no meio da Cidade homens condenados à morte ou ao exílio, e andando a esmo aqui e acolá e sem serem notados por alguém, como se fossem heróis?"
"Vi mais de um".
"E como julgar a maleabilidade e total assimilação desta forma de governo, diria mais, o desprezo pelos critérios que expusemos com tanto esforço, quando colocamos os fundamentos do Estado? Na ocasião sustentava-se que um indivíduo, embora dotado de uma natureza acima de boa, não pudesse nunca tornar-se um virtuoso, mesmo se, desde menino, na brincadeira, não tivesse se acostumado às coisas honestas e a estas não se aplicasse totalmente. Agora, ao contrário, passa-se sobre todos esses critérios com insolência, nem existe preocupação com o gênero de formação da qual deriva aquele que administra a vida política e, ao contrário, honra-se qualquer um, basta que se proclame amigo do povo."
"Grande e bela regra sem dúvida", observou
"Portanto - retomei - estes e outros são os comportamentos típicos da democracia, a qual certamente tem todos os ares para ser uma forma de governo civil, não autoritária e pluralista, que sabe difundir um certo princípio de igualdade ao iguais e desiguais".
"Dizes coisas até óbvias", observou.

*No homem democrático prevalecem os desejos não necessários*

"Passando à esfera privada - retomei -, considera qual é o homem típico da democracia. Não devemos, como já fizemos para o regime correspondente, considerar antes de tudo, o modo como se origina?"
"Sim", disse.
"E não poderia ser este?
Coloquemos o caso em que um determinado cidadão sovina, representante de uma mentalidade oligárquica, tenha um filho e como bom pai instrua-o de acordo com os seus costumes próprios".
"E então?"
"Coloquemos também o fato de que inclusive esse filho domine a vontade dentro dele dos prazeres; pretendo dizer acerca daqueles que arcam com um dispêndio e não conseguem ganho: em breve, os prazeres não necessários".
"Está claro", disse.
"Queres, no entanto - sugeri -, que, para afastar o campo dos equívocos, em primeiro lugar vamos definir o que se entende por desejos necessários e não necessários?"
"Sim quero", respondeu.
"Não é porventura justo chamar de necessários aqueles desejos que não podem ser afastados e, além disso, aqueles cujas satisfações nos implica uma vantagem? Com efeito, a nossa natureza necessariamente nos predispõe tanto em relação a alguém como em relação aos demais. Ou não é assim?"
"Com certeza".
"Consequentemente, é conveniente atribuir a esses o caráter da necessidade".
"Sim, é apropriado"
"E depois? Tais desejos que, em seguida a uma instrução precoce, podem ser eliminados e outros como estes, quando os sentimos, não proporcionam nenhum bem, e de vez em quando, pelo contrário, nos traz um dano grave, não faríamos bem em denominá-los de não necessários?"
"Faríamos bem".
"Vamos, então, fornecer exemplos de ambos, para termos uma experiência deles?"
"Se faz necessário".
"Dessa forma, o desejo de nutrir-se o suficiente para a saúde e para a boa forma física, ou seja, o desejo do pão e do que o acompanha, não deveriam resultar no necessário?"
"Acredito que sim".
"E o desejo pelo pão é duplamente necessário, porquanto é útil e também porque se faltasse nos privaria da possibilidade de viver".
"Sim"
"Pelo contrário, o desejo do acompanhamento do pão é necessário enquanto auxilia para ter-se a boa forma"
"Indubitavelmente"
"Mas, o desejo que ultrapassa tal medida - isto, o desejo por alimentos mais refinados destes mencionados - e que, por outro lado, quando considerado em relação ao controle da juventude, graças a uma educação sadia, poderia ser na maioria das vezes, deixado de lado, tu não o chamarias, francamente, de não necessário, ainda mais que este traz dano ao corpo e à alma tanto em relação às faculdades intelectivas quanto ao domínio dos instintos?"
"Certamente, como todo o teu direito para chamá-lo deste modo". "E, portanto, não poderíamos chamar estes últimos de desejos dispendiosos, os outros ao contrário de vantajosos porque, de fato, na prática trazem vantagem?"
"E por quê não?"
"E não deveríamos dizer o mesmo para os prazeres sexuais, bem como aos outros prazeres?"
"O mesmo".
"De conseguinte, nós asseveramos que aquele que, pouco antes assinalamos como o zangão, é o homem invadido por estes prazeres e desejos, predominando nele aqueles não necessários; ao invés, no homem oligárquico e avaro prevalecem os prazeres e os desejos necessários".
"E por quê não?"

*Na ausência de educação a alma se torna teatro de paixões opostas que suplantam cada virtude*

"Mas - continuei - voltemos a tratar do modo como o homem de oligárquico se transforma em democrático. A transformação, na minha convicção, na maioria das vezes acontece assim".
"Como?"
"Quando acontece de um jovem, instruído pelo modo como dizíamos, quer dizer sem uma educação verdadeira, e com a insígnia da avareza, encontra o gosto do mel das abelhas, e compartilha a companhia destes seres fogosos e terríveis, capazes de proporcionar prazeres infinitos de todos os gêneros e tipos, então tu podes avaliar que este é o início da sua transformação: o seu temperamento oligárquico deixa o seu posto para o democrático".
"É propriamente inevitável que aconteça deste modo", disse.
"No restante, se o Estado modificava a sua estrutura, quando chegavam à oposição auxílios do exterior - e compreende-se que a aliança é para as pessoas que têm a mesma tendência política -, por quê não deveria fazer o mesmo também o jovem, no que tange à parte do seu temperamento que está na oposição, quando chegam auxílios do exterior certos tipos de desejos que lhe são afins e do mesmo gênero?
"Sem dúvida".
"E, logo após, um reforço de natureza oposta viesse ao elemento constitutivo do seu caráter oligárquico, digamos do pai ou de qualquer outro parente, por força de advertência e severas repreensões, então no seu íntimo se desencadeariam estímulos e desestímulos; em síntese, uma verdadeira e exata batalha de uma das suas partes contra a outra parte".
"Como negar?"
"E eu imagino que, em alguma ocasião, o elemento constitutivo democrático fique para trás dando lugar ao oligárquico, e os desejos que aquela tinha são perdidos, outros são expulsos por algum pudor que nasce na alma do jovem, a qual, neste caso, voltaria a ter ordem".
"De vez em quando", admitiu.
"Todavia, dando sequência, imagino que outros desejos não dessemelhantes daqueles expulsos voltem a ser alimentados e se reforcem como também cresçam em número, certamente por motivo de incompetência do pai que seria o educador". "Com efeito - reconhece - as coisas habitualmente caminham precisamente deste modo".
"Esses desejos, portanto, arrastam-no junto às companhias habituais, e às escondidas misturam-se uns com os outros, e acabam por se multiplicarem numerosamente".
"Com certeza".
"Com o passar do tempo, depois, relacionam-se com a força da alma, tomam conhecimento de que esta é desprovida de noções, de estudos elevados, e de raciocínios válidos, os quais na mente dos homens prediletos dos deuses, constituem os maiores guardiães e defensores"!"
"Com certeza, e muitíssimo", disse."A um ponto tal que descobrem-se opiniões e discursos totalmente infundados e falsos que, substituem os verdadeiros, tomando os seus lugares".
"Não há a menor dúvida", ele deu a sua posição.
"E esse homem, não se torna talvez um dos loto fagos famosos, compartilhando a casa? E se dos seus parentes chegasse algum outro sustento à parte parcimoniosa da sua alma, aqueles tais discursos privados de fundamentos pela distração, fechariam as passagens dos muros reais que têm em si, e impediriam a chegada socorros. Por outro lado, não dão nem mesmo acolhimentos aos conselhos sábios dos cidadãos anciãos, ao contrário, uma vez que no final da batalha são precisamente esses discursos infundados que saem vencedores, sem que percebam alguma coisa, termina que acabam eliminando o pudor, chamando-o de tolice, pudor este que enxotam da temperança cobrindo-a de insultos e nomeando-a por vileza; e também assim atestam como bom serviço o equilíbrio e a parcimônia nas despesas, apresentando-os como avareza e rudeza, graças inclusive à cumplicidade de muitos desejos insidiosos".
"Exatamente isso".
"E, depois, ao esvaziarem e polirem novamente a alma, de quem está no poder deles, e iniciando aos seus mistérios, eis que introduzem a prevaricação e a anarquia, a devassidão e a degeneração ornamentadas com coroas esplêndidas e grande séquito, e assim aplaudindo-as e acariciando-as, chamam a prepotência de boas maneiras, chamam de liberdade a anarquia, afirmam que a devassidão é um dever cumprido, a intrepidez chamam de coragem.
"Por acaso, não é isto - perguntei - o modo com o qual um jovem de formação, fazendo do conjunto destas operações sobre os desejos necessários, passa à mais total liberdade e desleixo ao conceder-se os desejos não necessários e nada do que seja de fato útil?".
"Não há a menor dúvida", respondeu.

*A alma do homem democrático é volúvel e isenta de equilíbrio*

"Neste momento, eu penso que um tipo tal anda gastando dinheiro, esforço e tempo em troca de prazeres não necessários, tanto quanto para os necessários. Todavia, se a sorte está do lado dele, e não se deixa levar pela louca alegria, porém com o passar dos anos, sendo superada a fase aguda das paixões ele readquire um pouco da virtude que tinha perdido, não se entregando totalmente ao desejos já mencionados, então pode passar pela vida com equilíbrio entre um e outro prazeres, confiando na sua própria direção, por assim dizer, ao primeiro prazer que o acaso lhe coloca à frente, até que não esteja totalmente satisfeito, para após passar a um outro prazer, sem abandonar ninguém, dado que ele cultiva tudo do mesmo modo".
"Exatamente".
"Mas, o discurso verossímil - continuei - este não acolhe e nem deixa que ele entre em sua fortaleza; em vez disso, se alguém se recordasse que certos prazeres são provenientes de desejos bons e lícitos, e outros de desejos ilícitos, e que os primeiros são cultivados com consideração, ao passo que os segundos são reprimidos e mantidos travados, ele em cada uma dessas considerações responderia com aceno de negação, afirmando que todos os desejos são iguais e dignos de consideração igual".
"Com certeza - admitiu - um homem dotado de uma mentalidade tal como essa não poderia agir de outro modo".
"Em poucas palavras - prossegui - um tipo tal passaria a sua vida tirando satisfações conforme aquele desejo que prevalece; de vez em quando na embriaguez ou entre sons de flauta, no meio de outros, entre jejuns e brindes com água; às vezes passando o tempo com exercícios esportivos, em outras vezes no ócio absoluto e ainda outras vezes de uma vez por todas, dando a impressão de ser adepto à filosofia. Com frequência, após, se achegaria a um homem político, e então tu o verias saltar elevando-se na assembléia dizendo e fazendo aquilo que lhe passa pela mente; e quando tivesse vontade de imitar os militares, estaria totalmente do lado deles, e da mesma forma faria em consideração aos homens de negócios. E assim o seu modo de viver não tem nem um critério e nem uma lei, porém, chamando de bela a sua vida, despreocupada e doce, de jeito a dissipá-la totalmente desta tal maneira exposta".
"Fizeste - ele disse - um quadro perfeito da vida do homem típico do Estado onde a lei é igual para todos".
"E eu acredito, inclusive, que seja uma vida completamente diversa da vida monótona, rica pelos mais variados usos, e que aquele que a vive é belo e imprevisível, nem mais e nem menos do Estado que ele representa.
"De resto, muitos homens e muitas mulheres invejariam esse seu modo de ser, porque assume em si os paradigmas de um grande número de constituições e de comportamentos".
"Precisamente assim", admitiu. "Esse, de conseguinte, considerado em relação à democracia, é um homem que pode dizer que é verdadeiramente democrático".
"E que ele assim o seja!", ele concluiu.

Platão, República 555 B - 562 A, em Platão, Todos os escritos, Bompiani, 2014, pag. 1273 - 1278

É a igualdade dos homens que aterroriza Platão. Platão distingue o homem oligárquico do homem democrático por uma índole psicológica, não pelo desejo de ter uma vida diferente.

A discriminação social constitui o objetivo de Platão, que ao invocar a discriminação social, se coloca entre aqueles que governam, comandam e usam as estruturas do Estado para as suas necessidade, e para impor deveres às outras pessoas ao quais ele não participa.

Todo o ódio de Platão pelos homens está nesta frase: "Fizeste - ele disse - um quadro perfeito da vida do homem típico do Estado onde a lei é igual para todos".

Para Platão o democrata é o pobre. Quem não é pobre, segundo Platão, é um oligarca, um favorecedor da tirania. Como Crítias, Sócrates, é Platão. Ele se esqueceu de dizer que numa sociedade a riqueza é fruto de furto porque é subtração do trabalho de outras mãos alheias. Apoiando a oligarquia, ou o oligarca disciplinado, Platão apoia o furto praticado por alguns sobre a sociedade inteira.

A coletividade que sofre o furto deve se defender e o faz invocando leis iguais para todos os cidadãos, de modo a impedir que alguns roubem os cidadãos que vivem sob leis diversas.

O cristianismo fez como próprias as leis da desigualdade entre as pessoas invocadas por Platão. As mulheres não teriam direito, as crianças poderiam ser violentadas e os homens poderiam morrer do trabalho ou morreriam para defender a oligarquia católica, em todas as guerras desencadeadas pela mesma oligarquia católica para o próprio poder dessa oligarquia.

Eu escrevi algumas coisas que identifiquei em Platão e que condicionaram o desenvolvimento inteiro da filosofia. A filosofia de Platão é a filosofia do ódio social. Ele construiu uma sociedade de repressão, de ódio, de tormentos e de injustiças. Uma vez que o ódio platônico se impôs na sociedade mediante o cristianismo, todo o caminho da humanidade empreendido antes disso, foi parado. Foi necessário construir um novo e diferente caminho partindo-se do próprio ódio e do horror que Platão tinha imposto aos homens.

Podemos dizer que toda a história das ideias filosóficas outra coisa não é senão a saída do horror Platônico assumido como sendo próprio do cristianismo. Um horror que tende sempre a se reintroduzir cada vez que um aspecto da repressão cristã é removido da sociedade civil.

Foi necessária a Revolução Francesa para que fosse compreendido o princípio da igualdade jurídica; foi necessário o ano de 1968 para se reconhecer a igualdade, sob a mesma lei, entre homem e mulher.

Platão construiu ódio social para além de dois mil e quatrocentos anos levando ao sofrimento toda a humanidade sob o jogo da escravidão.

 

Marghera, 07 de setembro de 2018 - modificada em 15 de setembro de 2019

 

 

A tradução foi publicada 21.05.2020

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

 

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