Contemplação

A vida no ser natureza - Debate número 5

A filosofia do tornando-se da Religião Pagã

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

Filosofia Pagã

Índice:

--- Contemplação

--- A Questão da Contemplação Relativa ao Ritual do Equinócio de Outono

--- Aonde conduz a ação do contemplar

 

Outros elementos da construção do individuo na Natureza

1) Meditação

2) Correntes Vegetativas

 

Contemplação

A Contemplação é a técnica mediante a qual o individuo, modificando a si mesmo, encontra os DEUSES e o agir deles no mundo que o rodeia!

O Ser Humano age seguindo a razão, no entanto, obriga-a a aceitar o novo, abrindo, assim, um canal intuitivo com o mundo circunstante!

Com a Suspensão do Diálogo Interno liberamos a atenção da prisão das palavras (palavras que justificam ou julgam tudo o que se refere aos nossos sentidos); os conceitos repetitivos (repetição da descrição mediante as palavras); libera da obsessão da razão (descrições racionais de como nos comportamos de um tal modo, com o fim de justificar e delimitar a manifestação das nossas tensões subjetivas).

A razão, agora, entendeu que o individuo pode suspende-la. A razão reage a esta possibilidade de ser suspensa do controle que mantem sobre a pessoa, e tende a transmitir as sensações ao individuo cada vez que ele a ameaça de suspende-la:

1) Com o temor e o pânico de perder as certezas, subjetivamente adquiridas!

Esse temor se manifestará sob forma de ansiedade à qual o individuo tenderá a responder, restabelecendo, assim, o controle da razão sobre ele, ao manifestar as suas tensões; ou então vivendo o estado ansioso como um momento através do qual carregar a própria capacidade para projetos, ao manifestar as suas tensões.

Se a razão retoma o controle na manifestação das tensões do indivíduo, quando essas tensões escapam da bagagem descritiva dela, então ela recorre à IMAGINAÇÃO, evocando, objetos imaginários como causas das tensões (deus todo-poderoso, o demônio, os anjos, etc.); nos casos mais graves de conflitos no individuo, entre as necessidades das tensões se exprimirem e a necessidade do controle da razão, então irão se manifestar obsessões e fobias.

O peso do "remorso de consciência" por ter violado os ditames do deus todo-poderoso é um peso psíquico, que é induzido pelo condicionamento educacional, capaz de levar ao suicídio!

2) Superado este momento (que coincide com uma crise psicológica de um individuo) segue-se uma necessidade de aceitação antes, das próprias tensões subjetivas, e de procura, depois, para dar novas respostas e novas modalidades de expressão às tensões e às necessidades do individuo: A RAZÃO SE DILATA E SE EXPANDE.

Com a Meditação tem-se que de um lado, forneceu-se uma solução para a razão : diminui-se o fluxo das palavras, mas o conceito, o objeto ou o mecanismo são sempre pensados; por outro lado: a atenção, dentro da razão, vem a ser liberada do caos das palavras obsessivas e dos conceitos repetitivos, permitindo soluções diferentes daquelas emotivamente impostas pela razão.

A razão é modificada, através da meditação, vem a ser modificada por meio da vontade do sujeito aplicada dentro da meditação.

Com a Contemplação levamos a atenção sobre objetos externos.

ATENÇÃO:

Contemplar não é olhar e observar !

Contemplar não é fixar o olhar e admirar !

Contemplar não é extasiar-se ou adorar !

Qualquer uma dessas coisas não é Contemplação.

A Contemplação é uma manifestação de vontade de um individuo através do uso dos seus sentidos em relação a um objeto (que portanto, recai sobre os sentidos), de tal modo que permite :

1) Ao objeto contemplar o contemplador;

2) A leitura, mediante a atenção, de fenômenos não usuais do objeto afim de fazer emergir a intuição subjetiva, permitindo a esta inserir-se no que é descrito pela razão ou modificar o que é descrito pela razão (as assim chamadas explosões intuitivas).

Existem pessoas que Contemplam naturalmente, (ou naturalmente são levadas a contemplar ou por propensão ou por hábito a contemplar o objeto antes de descrevê-lo. Quando estas pessoas o fazem habitualmente em relação aos Seres Humanos, diz-se que: sabem ouvir!); existem pessoas de tal modo rígidas para desenvolver tensões e medos até chegarem ao pânico quando o objeto que "olham" não entra da descrição delas (diz-se, frequentemente, que essas pessoas são: cheias de si, isto é presunçosas).

Quando que o objeto contemplado nos contempla?

Quando ele exprime em relação a nós uma vontade subjetiva.

Quando o sujeito contemplado vive por meio da sua manifestação de vontade.

Quando o sujeito se faz um deus, expandindo-se na sua objetividade.

Quando nós fizermos parte nos interesses das suas transformações.

Contempla-se:

1) Bloqueando o diálogo interno; colocando a atenção para bloquear o diálogo interno, mas não bloquear os sentidos e a chegada dos fenômenos por meio do sentido com o qual foi decidido contemplar.

Aquilo que os sentidos percebem alcança a razão sob forma de "DESCRIÇÃO DE UM PERCEBIDO".

Do momento em que o sentido principal do Ser Humano é a visão; a visão será o principal sentido envolvido na Contemplação. A contemplação com os outros sentidos prevê a anulação da visão (fechar os olhos) e a concentração da atenção própria sobre o sentido envolvido.

Formas de Contemplação através do olfato eram (e são) praticadas nas faculdades de química para desenvolver a capacidade do aluno para reconhecer muitas substâncias.

A visão intervem na formação da descrição da razão, manifestando a forma dos objetos, e posteriormente o diálogo interno a descreve mediante as palavras. Conforme a forma dos objetos ela é fixada na descrição da razão, que continua a recitar a forma dos objetos (e as situações) cada vez que olhamos para eles ou os imaginamos. No final do processo de subjetivação mediante a descrição da forma dos objetos, acabamos focalizando somente aqueles objetos que descrevemos, descartando da nossa visão os objetos e os fenômenos para os quais não temos elementos com os quais descrevê-los.

Este processo age também na FORMA PENSAMENTO, e condiciona do mesmo modo os outros sentidos humanos.

Desde criança aprende-se a olhar uma árvore.

Os adultos incitam a criança para admirar a árvore; a descrever a árvore; a desenhar a árvore. Esse processo de subjetivação chega a um ponto tal, que as nossas emoções ficam vinculadas àquela forma que "admiramos" mais, e acabará em definir aquilo que entendemos por BELO.

Na atividade da Contemplação é necessário aprender a usar os olhos, fazendo com que desapareça a forma do objeto contemplado.

Três são as técnicas mecânicas no uso dos olhos que são a base da Contemplação:

1) Desdobramento das imagens;

2) Focalizar um ponto vazio entre o observador e o observado;

3) Retirar a visão fazendo pressão no centro da fronte

Relembrando:

Três são as técnicas mecânicas no uso dos olhos, que servem de base à contemplação:

1) Desdobramento das imagens;

2) Focalizar um ponto vazio entre observador e observado;

3) Remover a visão fazendo pressão no centro da fronte.

Com esta prática, na suspensão do diálogo interno, e na meditação, desviamos a nossa atenção sobre NÃO-OBJETOS.

Uma parte dos fenômenos que concorrem para nos fornecer a descrição do objeto, vem a ser anulados, cancelados ou alterados, de modo que somos obrigados a reconhecer um objeto com uma quantidade e qualidade diversa de fenômenos. Por exemplo: a dilatação da capacidade subjetiva em concentrar a atenção sobre odores e descrever os objetos através dos odores é (para quem inicia a fazê-lo) percepção de não fenômenos que vem a ser transformados em fenômenos .

Quando se força a visão ou um outro sentido (no lugar da visão ou na falta dela), esse esforço é transmitido em todo o individuo e arrasta, por meio das necessidades de adaptação que ele induz na sua parte física, todo o seu pensamento, tudo o que é descrito e tudo o que é percebido.

A prática constante de:

1) desdobramento das imagens;

2) Colocar em foco um ponto vazio entre o observador e o objeto;

3) remover a visão, fazendo pressão no centro da fronte.

Com a :

-Suspensão do diálogo interno;

-A prática da meditação;

-O Intento;

-A Arte da emboscada;

-A Atenção

e o conjunto das práticas de A Mistura do Bruxo, permitem reestruturar o pensamento (reativação ou modificação de parte da rede de sinapses) permitindo o que nos rodeia de interagir conosco.

Negando a prisão da forma, que está na base da descrição, a razão é obrigada a pescar novos fenômenos e PERMITE AO CONTEMPLADO DE NOS CONTEMPLAR.

Aqui seria o caso da releitura da Mistura nos Quatro Cantos do Mundo (Il Crogiolo nei Quattro Canti del Mondo).

As relações em que a intuição do contemplado flui sobre o contemplador (sempre que o contemplado seja um Ser da Natureza ou com uma parte humana como Ser Terra, o Ser Sol, elementos do Ser Atmosfera, etc.) que é contemplado por sua vez.

A contemplação leva a atenção de quem contempla ao abstrato da razão (desdobrar uma planta ou desfocá-la até fazê-la desaparecer, mantendo sobre ela a nossa atenção leva a colher aspectos e considerações que a razão considera abstratos).

O abstrato é tudo o que a razão reputa como inútil.

É algo inútil para a razão, desenvolver o silencio do diálogo interno enquanto olhamos a luz de uma árvore fora de foco, ou a sua forma é feita de maneira a desaparecer do desdobrar da visão. A razão se pergunta: "Para que fazer isto? " A razão teme que o individuo inicie a viver naquela dimensão sensorial que ela não está em condições para descrever.

Aquele inútil é a ponte que conduz ao real da percepção, ao real do psiquismo. Mesmo se um real, com efeito, não existe, porque o verdadeiro objetivo não é alcançar uma nova verdade do mundo, uma nova descrição, mas continuar a crescermos e nos transformarmos!

Vamos definir agora o que entendemos por real:

O real é o que percebemos, tudo aquilo que conseguimos perceber, e no qual organizamos as nossas ações.

Isto é: a leitura subjetiva da objetividade, na qual manifestamos a nossa vontade.

Podemos dizer:

O que percebemos é objetivamente real;

Não podemos dizer:

O objeto do qual percebemos a forma, exaure a sua realidade na forma.

Podemos dizer:

O que intuímos é real;

Não podemos dizer :

A forma descrita pela minha intuição é real e coincide com a forma subjetiva com a qual descrevo a realidade !

Podemos dizer:

Tudo o quanto nós descrevemos é real, seja no descrever da nossa percepção subjetiva, seja na realidade do objeto que eu descrevo.

Não podemos dizer:

Como eu descrevo, é o objeto em si !

Real é o mundo em que agimos; ilusória é a descrição e a limitação que nós, subjetivamente, damos ao mundo em que vivemos.

A intuição deriva de um complexo de mundos dos quais estamos separados, porque não estamos em condições de descrevê-los. (pág.55)

A ponte de união entre o mundo da descrição e o real é dada pela Contemplação, que anulando a obsessão da descrição da forma, obriga o indivíduo a parar um pouco sobre o objeto contemplado e anular a forma desse objeto, usualmente descrita; ou de qualquer modo, fixar a sua atenção sobre aspectos não usuais desse objeto (ou anular a maneira habitual do quotidiano como se olha o objeto).

Ficar meia hora sentado diante de um objeto (o ideal para contemplar é uma planta. Uma planta de apartamento ou uma pequena árvore. Ela está viva, está consciente, contempla ao seu redor, tem vontade e intuição, e tem a inegável vantagem de estar parada. Pode-se contemplar o Sol, mas queima os olhos. Pode-se contemplar a lua, mas as suas fases a tornam instável. Pode-se contemplar as nuvens, mas com frequência ficar com a cabeça voltada para cima cansa. Pode-se contemplar um animal, mas ele se movimenta. Pode-se fazê-lo com a água, mas têm-se menos respostas. Pode-se contemplar o fogo, mas é melhor fazê-lo durante os ritos religiosos!; colocá-lo fora de foco, fechando o diálogo interno e observar o seu desfoque sem descrevê-lo. Para treinar a capacidade de fixar o olhar, sem focalizá-lo, pode-se treinar fixando em intensas neblinas, ou em direção ao céu.

São necessários alguns meses para se predispor a estrutura física e descobrir que estaremos contemplando, quase que naturalmente, na nossa atividade quotidiana.

Nesse meio tempo, fazemos uma boa ginástica ótica ou olfativa, gustativa ou auditiva.

Com isso se reestrutura a razão, predispondo-a para a chegada de novos fenômenos (seja pelo aspecto inusual do objeto contemplado, seja pela manifestação da intuição à qual ela deverá abrir caminho).

A intuição NÃO se manifesta NUNCA durante a Contemplação (e, portanto, não se iludam de se tornarem dominadores de um "poder" superior). A intuição chega quando uma série de situações, como predisposições subjetivas, o impulso emotivo, as condições de vida, as exigências de uma ação subjetiva, etc. se manifestam e coincidem com um estado contemplativo natural do indivíduo.

A Contemplação predispõe o indivíduo, mas a intuição emerge porque chamada pelas nossas necessidades. Se nos predispormos a limitarmos a obsessão da razão, então a intuição surge! É a diferença que há entre julgar-se afortunados ou julgar-se desafortunados.

Vimos que a Contemplação deixa o individuo predisposto a limitar a obsessão da razão na sua descrição do mundo, mas a intuição nunca emerge durante ela.

A intuição surge porque é chamada pelas nossas necessidades.

Estas situações podem ser tidas pelo nome de: ESTADO DE NECESSIDADE SUBJETIVO !

Os efeitos da Contemplação se manifestam no VIVER POR DESAFIO !

1) a nossa razão não é dona do nossa intuir;

2) as nossas tensões, as nossas necessidades, os nossos estados de necessidade emotiva, são manifestados seja na razão como em todo o nosso ser.

3) no estado de necessidade, o individuo se exprime com os meios que forjou.

A intuição pode tentar se manifestar, mas deve encontrar uma brecha para superar a barreira da razão, e uma razão dúctil, capaz de acolhê-la reconhecendo a necessidade de acolhê-la. É o resultado da transformação subjetiva induzida pela da Meditação e da Contemplação;

4) o estado de necessidade cria, na pessoa, um estado de ansiedade. Este estado pode canalizar as capacidades da pessoa que está preparada, munida, ou poderá afastar a pessoa não preparada para enfrentar o estado de necessidade, que criou a ansiedade;

5) Naquele momento em que o individuo percebe mais ou menos, terá:

A) Suspendido o Diálogo Interno;

B) Concentrado todo o seu ser no seu próprio estado de necessidade;

C) Manifesta necessidades, tensões e intento relativo aos problemas;

D) Esta tensão emotiva, unida à prática da Contemplação, permite dar passagem à sua intuição.

O VIVER POR DESAFIO, submetendo o indivíduo às tensões da contradição extrema, permite uma chegada contínua de intuições. Frequentes micro-intuições !

O intuir se torna, assim, prática do quotidiano. Clarões que alcançam continuamente a razão.

A intuição pode ser ou uma mensagem proveniente do mundo externo (outras vontades), ou emerge do indivíduo (memória de espécie ou experiências esquecidas, de qualquer modo sempre da parte mais interna do cérebro. Se não fosse fisiológica, diríamos que emerge do inconsciente).

Para concluir:

A Contemplação é a atividade através da qual nos predispomos a intuir o divino que nos circunda!

Atenção:

Lembremos de que estamos falando do Ser Humano que se prepara para se desenvolver como Ser da Natureza. Não estamos falando do Ser Humano que se prepara, se muni, para viver no Sistema Social Humano na Itália em 2014.

Porque lembro disto?

Porque a Contemplação prepara o Ser Humano como Ser da Natureza. Leva-o a retomar nas mãos o seu desenvolvimento, como Ser da Natureza, percebendo novos fenômenos com os quais confirmamos uma descrição diferente do mundo.

A ação, como manifestação da intuição, não é considerada um modo normal (nem ao menos possível) dentro do Sistema Social.

Quando se intui serão ditas coisas, e se transmitirão mensagens incompreensíveis para a maior parte das pessoas (manifestar-se-ão necessidades e desejos com os quais muitas pessoas, que estão por perto, dirão: "Não te entendo". Somente alguns aspectos serão captados por pessoas que têm predisposição automática ou naturais para a contemplação.

Lembrem-se de que: quem não contempla é cego em relação a muitos fenômenos, e de muitos mecanismos que para quem contempla acha-os óbvios, normais e naturais. Trata-se de indivíduos que se abandonaram dentro da forma do seu próprio condicionamento educacional, e no qual cultivam a segurança subjetiva deles.

Como se impede a incompreensão do Sistema Social em relação aos Contempladores?

Antes de tudo, através da Meditação e da prática, tornar-se hábil com as palavras e com a descrição da razão. Tornar-se o mais hábil possível na exposição de princípios e de conceitos. Todavia, se isto não for bem calibrado, pode produzir reações nas pessoas que estão ao nosso redor (sentem-se prevaricadas, porque não possuem argumentos e instrumentos com os quais fazer-nos frente.

Em segundo lugar, através da prática da Loucura Controlada, que trataremos quando falaremos da vida no mundo social humano.

Há um outro modo para se comportar, mas é loucura.

Revolucionar o sistema de pensamento humano, fazendo-se sentir inadequados e deslocado, quem não contempla!

Mas este é um outro discurso e se refere aos Intentos subjetivos do nosso viver por desafio.

 

A Questão da Contemplação Relativa ao Ritual do Equinócio de Outono

A Contemplação é uma prática exclusivamente Pagã Politeísta com o uso dos sentidos, que tem a finalidade de penetrar o mundo em que vivemos.

Contemplar tem a finalidade de nos organizarmos, a nós mesmos, com o fim de reconhecer no objeto sobre o qual apoiamos os sentidos concentrando-nos em nós mesmos, as nossas próprias tensões, as nossas próprias necessidades através da focalização de fenômenos inusuais com o qual o objeto contemplado se apresenta a nós.

Tomemos como exemplo uma fogueira!

Contemplar uma fogueira!

Deve-se sentar a uma certa distancia do fogo de modo que a fumaça não perturbe a concentração, relaxa-se e se escolhe qual o sentido através do qual efetuar a Contemplação.

Em se tratando do fogo, podemos eliminar imediatamente os sentidos do tato, do paladar e do olfato. Esses sentidos nós os usamos para outros tipos de contemplação.

Podemos escolher a visão ou a audição.

Se escolhermos a visão, então é necessário desfocar os olhos. Se escolhermos a audição, não será necessário alterá-la. Escutar a voz do fogo não entra na compreensão comum da razão, não é habitual; olhar o fogo entra na compreensão usual da razão. Havia um modo antigo de Contemplar com os ouvidos, e era o de escutar as vozes das fontes, dos rios, dos córregos, das cascatas ou do vento.

Se se decide contemplar com os ouvidos, é necessário fechar os olhos, para que a visão não influencie o que se ouve.

Agora vamos falar somente do uso da visão.

Desfocar a visão pode ser feita de três modos: cruzar os olhos (aqui no Brasil isto significa virar os olhos como se se fosse vesgo), tornando dupla, assim, a visão da fogueira (aparecerão duas fogueiras), então coloca-se a atenção no meio das duas fogueiras vistas. Esta é a prática mais simples.

O segundo modo é: focalizar a visão sobre um ponto intermediário entre o vidente e a fogueira, ponto em que não existe nada, e ao mesmo tempo manter a atenção sobre o fogo (esta é uma prática bastante difícil fixar a visão sobre um ponto aonde não existe nada para se ver).

O terceiro modo: jogar para trás olhar (isto é como se desejássemos ver o interior da nossa cabeça) e fazendo pressão no centro da fronte.

Reiterando como CONTEMPLAR, pela Bruxaria Pagã Politeísta, usando o sentido da visão exclusivamente:

Três modos:

1) Cruza-se os olhos (ficando-se "vesgo") e as imagens do objeto contemplado serão duas. Concentra-se, a seguir, a atenção no meio das duas imagens;

2) A mais difícil: entre o objeto contemplado e o contemplador, fixa-se o olhar em um ponto no "vazio", aonde não é visto nada, e ao mesmo tempo mantêm-se a atenção no objeto;

3) Joga-se o olhar para trás da cabeça e ao mesmo tempo fazendo-se pressão no centro da fronte.

Voltemos ao exemplo da fogueira, como sendo o objeto contemplado com o sentido da visão:

O importante é que a atenção do contemplador permaneça sobre a fogueira, enquanto constatamos que, evidentemente, as imagens formadas devido ao desfoque proposital com os olhos, são diferentes das imagens que usualmente vemos sem o desfoque.

Neste exato momento, deve ser provocado um vazio na mente, ou seja, bloqueia-se o dialogo interno.

Agora, a única coisa que existe para nós é a fogueira, que a olhamos de maneira diversa da forma costumeira, mas sem usar palavras para descrever o que vemos.

Para controlar o esforço é necessário usarmos da respiração: ritmá-la ou mais velozmente ou mais lentamente, isto para nos ajudar a mantermos o dialogo interno em silêncio.

Neste caso, ter-se-à um uso duplo da atenção, de um lado através dos olhos que está concentrada sobre o fogo; e, através dos nossos esforços internos a atenção estará concentrada também na nossa respiração.

Com um pouco de exercício a nossa atenção deverá se harmonizar entre a atenção sobre o fogo e a atenção dentro de nós, pela respiração, mas também com a atenção do fogo sobre nós.

Se for mantido esse estado por um certo tempo, saímos da dimensão da razão e temos uma percepção diferente da "realidade".

Entramos em um estado psíquico através do qual podemos entrar em mundos diversos (ou mundos silenciosos).

Do momento em que nós não podemos usar a razão para descrever aquilo que está acontecendo, do momento em que a razão ignora tudo o que está sucedendo, mesmo se ela tentar introduzir em nós um estado de ansiedade, a única coisa real são as variações do estado emocional que sofremos. Decepada a atividade da razão, que tentará nos incutir medo (o que já devemos ter superado, pelos debates realizados), as nossas emoções são aquelas que nos podem descrever aquilo que estaremos percebendo com a percepção alterada.

As nossas emoções entram em sintonia com as vozes dos DEUSES na figura dos objetos do mundo, que assistem à nossa saída da razão, e na figura daqueles que havíamos chamado, enquanto com os sons manifestávamos o nosso Intento.

Não se preocupem com os espíritos negros, porque a energia dispendida por um caçador de conhecimento, de uma pessoa que usa a sua vontade própria para sair da razão, os mantem longe, afastados. Eles somente se aproximam quando a saída da razão da pessoa é casual ou acidental.

O perceber qualquer coisa, nesse aspecto, e em cada caso, não é importante.

É importante, sim, que nós por meio da Contemplação, predispomos o nosso corpo e a nossa razão para não temerem a chegada da intuição. Na prática, preparamos a razão para se abrir diante de situações diversas, à coisas que ela não tem palavras para descrever.

Na CONTEMPLAÇÃO, usada com a técnica da Bruxaria e da Religião Pagã Politeísta, técnica que foi exposta nas páginas anteriores, temos que:

Se trata de entrar em mundos silenciosos.

Esta prática, com as suas variações, pode ser usada para escutar as correntes vegetativas, e neste caso se concentra a atenção sobre tudo o que acontece dentro de nós.

Se usa também para o sonhar, procurando colocar a atenção sobre uma imagem recordada na mente das mãos, que se quer encontrar no sonho.

Tudo isto tem a finalidade de nos predispor para acolhermos a intuição, e o quanto de diverso emerge do mundo: nós nos abrimos ao universo! O nosso VIVER POR DESAFIO selecionará aquilo que do universo nos alcança, porque nós daremos uma direção à necessidade do nosso intuir, que selecionará a intuição através da nossa vontade sobreposta à nossa necessidade.

A Contemplação é um meio que serve para forjar a nós mesmos.

Pode-se usá-la quotidianamente para uma transformação sistemática da nossa capacidade em perceber o mundo.

Forçar a nós mesmos na atividade da Contemplação, permite uma maior elasticidade mental na vida quotidiana.

Contemplar é o oposto de rezar. Enquanto rezar contrai o individuo nele mesmo, o Contemplar o dilata: ensinem os seus filhos a contemplarem e eles estarão mais preparados para compreender o mundo que nos rodeia, e para poderem agir em sintonia com este mundo.

 

Aonde conduz a ação do contemplar

Na prática, conduz em reconhecer a qualidade de um objeto que pomos a nossa atenção, que é concentrada através dos nossos sentidos, acerca dos aspectos inusuais do objeto. Nesse momento o objeto, para nós, sai da descrição usual que nós fazemos dele, para assumir um papel diverso no nosso pensamento; na nossa razão.

Isto produz um outro aspecto que é subestimado pelo contemplador: no momento em que o individuo põe a sua atenção sobre os "fenômenos inusuais" do objeto contemplado, outra coisa não faz senão construir uma harmonia entre aquele fenômeno que emerge de dentro dele com o fenômeno que ele percebe do objeto contemplado. Só que o individuo não contempla (mesmo se acredita) o objeto na forma e na representação com a qual a sua razão usualmente o descreve, mas descreve "coisas" não comuns que nada mais são do que representações das tensões com as quais o objeto se apresenta.

As tensões do objeto contemplado se fundem com as mesmas tensões do contemplador. De modo que, o contemplador manifesta, em relação ao objeto, as mesmas tensões que percebe do próprio objeto.

O contemplado contempla o contemplador, e pelas tensões, que se fundem, se contemplam ambos.

A descoberta por parte do contemplador que as tensões chamaram para a fusão simbiótica entre contemplador e o objeto contemplado, que também contempla, leva o indivíduo a reconhecer os DEUSES do mundo, partindo do reconhecimento de que as tensões que se fundiram naquela contemplação, outra coisa não é senão aspectos do mesmo DEUS que se manifesta no contemplador e no objeto contemplado, que por sua vez também contempla.

Inicialmente, é o sujeito que chama a si mesmo de Contemplador, que escolhe a coisa, aonde e quando Contemplar. Só que o ato de contemplar abre dentro do sujeito, que contempla, uma "vontade" para contemplar. Uma necessidade de contemplar o mundo, e depois de uma certa prática, o contemplar se torna uma prática AUTOMÁTICA do modo como o contemplador se relaciona com o mundo. Quando o contemplar se torna uma atividade subjetivada do indivíduo, não somente o mundo chama o contemplador para que lhe contemple, através da sua contemplação [a contemplação dos sujeitos do mundo em relação ao contemplador], mas as mesmas tensões da vida chamam o contemplador e o contemplado para se contemplarem reciprocamente, de modo a fundirem as relativas tensões.

O sujeito contempla o mundo porque o mesmo DEUS imerso no sujeito, e presente no mundo, chamou ambos para fundirem as tensões, mesmo se essa fusão tenha sido solicitada pelo Contemplador (o Ser Humano) ou pelo sujeito, que contempla, por sua vez. Exatamente porque as tensões chamem contemplador e contemplado, é necessário que contemplador e contemplado estejam em condições de estarem sensíveis ao chamamento; saibam o que é contemplar (reconhecer as tensões subjetivas no objeto contemplado).

A passagem da consciência do Contemplar à consciência do ser Contemplado pelo objeto que está sendo contemplado (isto é, a certeza emocional), é o primeiro passo para racionalizar a própria colocação subjetiva dentro de um mundo de objetos que contemplam o mundo deles, através da vontade deles.

Isto além dos sentidos que privilegiamos na contemplação.

A passagem sucessiva é contemplar a tensão por fora do objeto que manifesta aquela tensão: esta como objeto em si !

Os sujeitos manifestam as ações dentro de uma contradição. As ações que manifestam são expressões subjetivas das tensões que vivem naquela contradição.

Nós podemos contemplar o sujeito que realiza as ações e delas observar as tensões, podemos observar as ações e individuar as tensões, ignorando o sujeito que estas tensões atravessam, como podemos também individuar as tensões, e dada uma objetividade na qual se manifestam, intuir as ações que elas produzirão. Na prática, as tensões constituem objetividade, que se exprimem nos sujeitos individualmente, e os sujeitos as manifestam mediante ações de acordo com a sua vontade, que vem expressa nos seus processos de adaptação subjetiva às variáveis objetivas.

As tensões que se manifestam na existência constituem o verdadeiro objeto da contemplação.

Assiste-se a uma transformação subjetiva no Intento para contemplar, que se inicia pela contemplação de uma descrição feita pela razão, que vem a ser transferida para os aspectos inusuais dos objetos. Primeiramente para captar aspectos não comuns dos objetos, e depois para captar as tensões que se manifestam antes, através dos objetos, e depois nelas mesmas: as tensões que atravessam o universo.

Contemplando, o indivíduo se transforma; a sua transformação subjetiva transfere a sua atenção na contemplação em um relacionamento dialético de modificação (objeto contemplado e necessidade subjetiva) dentro do seu VIVER POR DESAFIO.

Nós praticamos a contemplação sentados comodamente e concentrando a nossa atenção sobre o objeto contemplado. Quando se adquire o hábito de contemplar, esse hábito se transfere como patrimônio do individuo (como o hábito de frear o automóvel quando as luzes vermelhas dos freios do carro da frente se acendem). Mas o contemplador nem sempre está comodamente sentado com uma cerveja em mãos, fixando a sua atenção no céu, na nuvens, numa árvore ou com a atenção dirigida a uma fogueira. O contemplador é um Pagão Politeísta que VIVE POR DESAFIO. E, pode encontrar-se contemplando um conceito abstrato de filosofia; contemplando uma situação social, uma questão de trabalho, uma questão de relacionamentos entre pessoas; pode contemplar a si mesmo e a sua não adequação, etc, etc. INTUIR ASPECTOS, SITUAÇÕES, OU COISAS QUE NEM AO MENOS SUSPEITAVA!

Não existem somente os aspectos inusuais da árvore, do céu ou das nuvens, existem os aspectos não comuns do nosso VIVER POR DESAFIO.

As tensões que para isso concorrem.

As tensões que atravessam todos os sujeitos nas várias relações do VIVER POR DESAFIO.

O Contemplador é a única pessoa que está em condições de conduzir os Desafios na sua Própria existência, resolvendo as oposições no Sistema Social, agindo sobre elementos desconhecidos pelo próprio antagonista (falamos sobre isto no debate sobre o Intento no ciclo precedente).

Isto porque, a visão do todo da situação do Contemplador supera a simples descrição racional, para se focalizar sobre aspectos não usais (ou irracionais) da situação em si mesma: para termos um exemplo, um cristão educa uma criança somente com ameaças e prêmios, um contemplador sabe observar as emoções da criança e pode fazer-lhe solicitações!

O contemplador está em condições para colher o aspecto não usual do seu VIVER POR DESAFIO, e executa as estratégias que estão aptas para agirem diretamente sobre as tensões do VIVER POR DESAFIO.

*ATENÇÃO MÁXIMA NESTE PARÁGRAFO QUE SEGUE ABAIXO:* (esta nota não está no original do Livro, mas reputei de extrema importância)

As tensões que atravessam os objetos, e que solicitam a nossa atenção, outra coisa não são, senão os DEUSES que se comunicam com o DEUS que cresce dentro de nós, e ELE transmite esta comunicação à razão sob forma de sensações, desejos, necessidades (além daquilo que a razão possa compreender a origem dessas sensações, do desejo ou da necessidade).

Aqueles DEUSES com os quais podemos construir imediatamente as relações, e com as quais podemos agir afim de que o nosso VIVER POR DESAFIO vire ao nosso favor.

O contemplar é um meio de usar dos sentidos que é próprio do Pagão Politeísta, que concebe a sua própria existência imersa em um imensa Mistura de Deuses, da qual ele faz parte, e assim, é uma elaboração do DEUS que cresce dentro dele.

Marghera 16 de novembro de 2003

Nota do tradutor:

Antes de continuar com os ensinamentos de Claudio Simeoni, gostaria de dizer algo que aprendi com ele, logo que o conheci virtualmente:

Perguntei-lhe, na ocasião: - O que são as Linhas de Tensão?

Obtive como resposta o seguinte (as palavras escritas de Claudio Simeoni foram mais ou menos estas): - *Você dever ter assistido a um filme de ficção muito divulgado, onde é mostrado um feixe de energia universal que liga ( nesse filme), seres especiais de cor azul na história fictícia)*

Portanto, quando falamos em *tensões*, entendem-se as *Linhas de Tensões* que transpassam, atravessam, todos os sujeitos e objetos no mundo que nos circunda. Oportunamente, tentarei traduzir algo, de suma importância, que se refere a essas Linhas de Tensões, porquanto devem estar "alinhadas" e em perfeita harmonia universal com cada Ser individualmente.

 

Marghera, 14 de setembro de 2003

 

 

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

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Cod. ISBN 9788891170897

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Claudio Simeoni

Mecânico

Aprendiz a Bruxo (Apprendista Stregone)

Guardião do Anticristo (Guardiano dell'Anticristo)

Membro fundador

da Federação Pagã

Piaz.le Parmesan, 8

30175 - Marghera - Veneza

Tel. 3277862784

Tel. 3277862784

e-mail: claudiosimeoni@libero.it

 

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