Quando se fala de um filósofo ou de um político, não se fala da pessoa do filósofo ou da pessoa do político, mas se fala da filosofia que o filósofo propõe ou da política proposta.
Se eu digo, por exemplo, "Aquele político ou aquele filósofo (coloque o nome e sobrenome que você preferir) é um "bosta", não estou me referindo à pessoa que exerce a política ou à pessoa que expõe a sua filosofia, mas à sua política e filosofia. São aqueles que a mim se apresentam com nomes e sobrenomes, não as pessoas em si mesmas.
Tomem como exemplo Kant.
Quando vocês usam o termo Kant, ao que se referem?
Ao homem que levanta pela manhã, toma o seu café, vai ao banheiro e se lava, ou vocês pensam no que foi exposto na Crítica da Razão Pura, na Crítica do juízo, na Crítica prática da razão ou em outros escritos?
O político, o filósofo, como pessoas, desaparecem do horizonte do espectador e este completa termos e nomes com aquilo que o filósofo escreve nos seus textos ou naquilo que o político exprime com as suas escolhas políticas.
O homem, individualmente, desaparece do horizonte da crítica, mas esse determinado homem vem a ser definido por intermédio das ideias expressas ou pelas escolhas políticas que fez. É incontestável que algumas ideias filosóficas e escolhas políticas caracterizam o homem que as estabeleceu, porém censurar ideias ou escolhas políticas não significa uma censura ao homem singularmente (ofensa pessoal); no entanto é uma censura dirigida às ideias filosóficas ou às escolhas políticas.
O "cabeça de caralho" não é o filósofo que manifesta as ideias, mas são as ideias manifestadas que qualificam a atividade do filósofo. Em síntese, se o filósofo não tivesse manifestado tais ideias, eu não denominaria "cabeça de caralho" o indivíduo que se levanta pela manhã, toma o seu café, vai ao banheiro, etc., mas o qualifico como " cabeça de caralho" porque as suas ideias me ofendem e podem constituir um grave impedimento para a construção do meu futuro.
A obstrução ou discórdia entre o meu viver o mundo e as ideias manifestadas pelo filósofo, ou as ações políticas, constituem ofensas que exigem respostas urgentes, pois são ofensas que recebi por causa das suas ideias ou escolhas políticas.
A pessoa que faz a filosofia não me interessa, mas o seu filosofar se torna a pessoa que se apresenta no mundo.
É o mesmo discurso que se apresenta na partida de futebol entre os filósofos.
A pergunta que é feita: qual é o tipo, que defino como filósofo, que se prepara para jogar a partida de futebol?
O espectador não pode permitir ao seu pensamento que eu disserte sobre as afirmações de Kant, de Voltaire, de Jesus chamado "filho de Yahweh", ou Friedrich Hegel, ou que, ao menos, eu mencione estas "pessoas". Não somente insulta a minha inteligência, mas reduz a minha cultura à condição em que se encontram os adoradores do açougueiro de Sodoma e Gomorra, que é como diz Paulo de Tarso:
"Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação: visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas insensatas do mundo para confundir os sapientes e escolheu as coisas fracas do mundo para confundir os fortes; e Deus escolheu as coisas vis e desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus."
Paulo de Tarso 1Coríntios 1, 26 - 29
É o jogo porco dos fundamentalistas com os quais eu não pretendo participar, porque não se é "sábio segundo a carne", mas o conhecimento e o saber são adquiridos vivendo e analisando o mundo onde se vive; não se é "insensato", mas o indivíduo se torna "insensato" renunciando a viver no mundo; não se é "fraco", mas os indivíduos foram obrigados a ser como tais por causa das condições objetivas impostas à sua existência; não se é "vil e desprezível", são as nossas escolhas que nos levaram às consequências que definimos como "vis" ou "desprezíveis". Nós poderíamos agir diferente? Talvez, mas agimos em consequência tanto da condição como das escolhas. É a atividade, através da qual, as coisas são reduzidas a nada (os homens) que torna as pessoas vis, desprezíveis, fracas ou ignorantes, a responsabilidade cabe às condições nas quais o mundo veio-a-ser.
Marghera, 21 de abril de 2018
A tradução foi publicada 04.05.2019
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni
Mecânico
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