Continuação do precedente...
Uma vez que a bola se afastou de Kierkegaard, ela chega aos pés de Comte.
"O conjunto das considerações precedentes conduz naturalmente ao exame do conceito fundamental, que é próprio da sociologia dinâmica, a um último aspecto fundamental, muito mais idôneo do que qualquer outro que manifesta diretamente, na prática, o verdadeiro caráter filosófico da política positiva. Trata-se do princípio dos limites gerais de qualquer ação política, do qual o conceito racional deve sobretudo dissipar imediatamente, hoje, o espírito ideal, absoluto e ilimitado, o qual, sob a influência preponderante da filosofia metafísica, habitualmente ainda domina o sistema das especulações sociais, como expliquei no início desta lição. Nenhum homem sensato poderia, de agora em diante, reconhecer antes de mais nada a existência necessária de limites similares, separando da sua efetiva determinação, a menos que continuaria num sério uso da antiga hipótese teológica, que representa o legislador como um simples órgão de uma providência direta e contínua, sob a influência da qual não se poderia, de fato, admitir algum limite."
Comte, Curso de filosofia positiva, Mondadori, 2009, p. 253-254
Comte, após olhar rapidamente o campo, lança a bola em direção de Schelling.
"Para a consciência a compensação pela perda de deus que não deveria existir, e que, por isso, regride do ser ao não-ser, pode dar-se somente no deus que está destinado a existir, ao qual cabe o ser. Este deus não pode ser aquele que, em suma, havíamos chamado Dioniso, efetivamente isto não é senão a intervenção de deus destinado a existir com a negação daquilo que não deve existir. Não deus em si mesmo, mas apenas relato, que se demonstra como sendo aquele deus puro porque nega aquele que não deve existir."
Schelling, Filosofia da mitologia, Mursia, 1990, p. 378
Schelling é afrontado por Spinoza que lhe tira a bola.
"Os modos, todos, por meio dos quais um corpo está afeiçoado a um outro corpo, dependem da natureza do corpo afeto e concomitantemente da natureza do corpo eficiente; de maneira que, um mesmo corpo se move diversamente segundo a diversidade da natureza dos corpos que se movem, e, ao contrário, diversos corpos são movidos diferentemente por um único e mesmo corpo."
Spinoza, Ética, Fratelli Melita editores, 1990, p. 129
Spinoza, por entre o brilho de uma e de outra lente, passa a bola para Hume que, a detém e ajeita-a em seus pés, aprontando-se assim para dispará-la com o seu chute.
"Todos os céticos sustêm que, se a razão é considerada de modo abstrato, ela fornece argumentos incontestáveis contra ela mesma, e nós não conseguiremos jamais manter uma convicção ou uma segurança acerca de qualquer argumento, e se os raciocínios céticos não fossem deste modo sutis e refinados, chegar-se-ia ao ponto de não se poder contrabalancear os argumentos mais sólidos e mais naturais, que derivam dos sentidos e da experiência."
David Hume, Diálogos sobre a religião natural, BUR, 2013, p. 137
Por cima de Hume se lança Heidegger que anuncia uma questão.
"Mas, por esse itinerário, dispensando o problema específico do mundo, é possível alcançar ontologicamente, antes de tudo, a esse ser que se encontra no mundo? Não sucede ao invés que, com a materialidade da coisa, introduz-se implicitamente um ser, a simples presença persistente da coisa, com a qual os sucessivos dotes de predicados de valor não constitui completamente uma integração ontológica, dado que tais atributos de valor são, também eles, apenas determinações ônticas de um ente que continua conservando o modo de ser da coisa?"
Heidegger, Ser e tempo, Longanesi, 2011, p. 126
E eis Nietzsche que chega correndo velozmente apoiando Heidegger, pronto para receber a bola e dar continuidade à ação deste.
"Toda a beleza e a magnificência que temos concedido às coisas reais e imaginárias, quero reivindicá-las como sendo propriedade e produção do homem: como a sua mais bela apologia. O homem como poeta, como pensador, como Deus, como amor, como potência, - ; oh! A majestosa liberalidade com a qual doou às coisas, para empobrecer-se e sentir-se mesquinho! Até agora o seu maior desinteresse tem sido o fato de que ele tem admirado e adorado, e soube esconder-se, daquilo que próprio produziu e admirou."
Nietzsche, A vontade de poder, Newton, 1984, p. 52
Enquanto Nietzsche está se deslocando, Voltaire intervém escorregando num salvamento de carrinho e lhe tira a bola dos pés.
"Quando diante do tribunal do supremo sacrificador ele confessa, com um modesto jogo de palavras, que é o filho de Deus, o sumo sacerdote rasga as suas próprias roupas e grita contra a blasfêmia. Antes da descida do Espírito Santo, os apóstolos nem ao menos suspeitam da divindade do mestre deles; ele propõe ao sacerdote para que interrogue o povo para que respondam o que pensam dele; respondem que alguns consideram-no como Elias, outros por Jeremias, ou por algum outro profeta. São Pedro tem necessidade de uma revelação particular para poder reconhecer que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo. Os hebreus, rebelam-se contra a divindade de Jesus Cristo, recorreram a todos os meios com o intuito de destruir aquele grande mistério; desviam-se do significado dos seus oráculos, ou não os aplicam ao Messias; sustentam que o nome de Deus, Eloi, não é específico da divindade, mas que seja atribuído pelos autores sacros aos juízes, aos magistrados, e no geral àqueles que são investido de uma alta autoridade; citam efetivamente um número muito grande das passagens das sagradas escrituras que justificam esta observação, mas que ao menos não ofendam os termos explícitos dos antigos oráculos que se referem ao Messias."
Voltaire, Todos os romances e os contos, o Dicionário Filosófico, Newton, 1995, p. 639 - 640
Com a bola nos pés, Voltaire se prepara para mudar a frente de combate do jogo...
Continua...
Marghera, 01 de junho de 2018
A tradução foi publicada 07.11.2019
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni
Mecânico
Aprendiz Stregone
Guardião do Anticristo
Membro fundador da Federação Pagã
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