Continuação do precedente...
No segundo tempo da partida, o chute inicial compete aos existencialistas, e é Heidegger que faz o primeiro contato com a bola.
"Precedentemente, dissemos que o mundo sempre e até neste momento é aberto, deixando encontrar o ente intramundano. Esta abertura preliminar do mundo, que pertence à realização do ser, é co-constituída pela situação emotiva. O deixar-vir- de encontro é o primariamente pressagiado ambientalmente e não simplesmente sensorial e contemplativo. O deixar vir de encontro prenunciado ambientalmente e diligentemente tem o caráter de afeição, de que somos neste momento capazes de ver mais claramente em virtude da situação emotiva. Mas, o ser afeiçoado à inutilidade, à resistência e ao intimidatório do que é vantajoso é, ontologicamente possível, somente porque a realização do ser como tal, já está determinada essencialmente de modo tal que, encontrando-se com o ente intramundano, pode ser ferido. Esta possibilidade de ser afeiçoado se funda na situação emotiva, como aquela que, por exemplo, pode revelar a ameaça do mundo. Somente um ente que está na situação emotiva do medo e da intrepidez pode descobrir o ente intramundano como sendo ameaçador. O afeto exclusivo, proveniente da situação emotiva, é um elemento essencial característico da abertura refente ao Ser no mundo."
Heidegger, Ser e tempo, Longanesi, 2001, p. 170 - 171
Com o seu tiro de meta, Heidegger auxilia Comte.
"Estando, deste modo, eliminadas estas objeções preliminares, nada mais me impede de vislumbrar primeiramente, de maneira direta, a ligação fundamental que une espontaneamente, com tanta energia, a força teológica e a força militar, e que, em qualquer época, isto sempre foi sentido vivamente, bem como dignamente respeitado por todos os homens de um alto nível, que realmente participaram de uma ou de outra, apesar do arrastamento das rivalidades políticas. Efetivamente, entende-se que nenhum regime militar poderia estabelecer, e sobretudo durar, se não se baseasse preventivamente sobre uma consagração teológica suficiente, sem a qual a íntima subordinação que ela exige não poderia ser nem suficientemente completa, nem suficientemente prolongada."
Comte, Curso de filosofia positiva, Monadori, 2009, p. 434
Eis então que, Jesus chamado "filho de Yahweh", como uma espécie de "verônica" ataca Comte, conseguindo tirar-lhe a bola.
"Não acrediteis que vim trazer a paz sobre a terra; não vim trazer paz, mas uma espada. Pois vim, de fato, para separar e fazer com que o filho fique contra seu pai, separar e fazer com que a filha fique contra a mãe, a nora contra sua sogra: e os inimigos do homem serão os da sua própria família, aqueles da sua casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que ama a mim, não é digno de mim; quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim; quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem encontrou a sua vida, perde-la-á: e quem perdeu a sua vida por minha causa, encontra-la-á."
Evangelho de Mateus 10, 34 - 39
Paulo de Tarso corre e recebe a bola de Jesus, denominado "filho de Yahweh", e se apressa para superar a metade do campo.
"Mas deve-se reconhecer que Deus é autêntico, enquanto cada homem é mentiroso, conforme está escrito: "Para que tu sejas reconhecido como correto nas tuas palavras e que triunfes quando és julgado". Mas se a nossa injustiça faz ressaltar a justiça de Deus, o que deduziremos? Deus é talvez injusto quando desencadeia a sua ira? (falo da maneira humana). Não, certamente: de outro modo como poderia Deus julgar o mundo? E se em decorrência da minha mentira, a veracidade de Deus resplandece enormemente pela sua glória, por quê eu deveria ainda ser julgado pecador? Ou melhor, por quê não devemos nos posicionar para fazer o mal, e para que o bem aconteça? Assim, alguns nos acusam por afirmarmos deste modo. A condenação deles é justa."
Paulo de Tarso, carta ao Romanos, 3, 4 - 8
Paulo de Tarso lança a bola para Sócrates que, deste modo, inicia a sua partida contra os existencialistas.
"Por um exame meticuloso, ó cidadãos atenienses, originam-se muitas inimizades, perigosíssimas e gravíssimas, ao ponto de terem surgido muitas calúnias e decorreu-me também tal reputação, ou seja, de ser sábio. De fato, cada vez, todos aqueles que estavam presentes pensavam que eu fosse sapiente a respeito daquelas coisas sobre as quais outro objetava. Ao invés, ó cidadãos, dá-se o caso de que na realidade o sapiente é o Deus e que o seu oráculo deseja responder precisamente isto, ou seja, que a sabedoria humana tem pouco ou nenhum valor. E, o Deus parece que se refere precisamente a mim, Sócrates, e ao invés faz uso do meu nome, servindo-se de mim como se, por exemplo, dissesse isto: "Ó homens, entre vós é sapientíssimo quem, como Sócrates, tomou consciência de que, pelo que diz respeito à sua sabedoria, não vale nada." Rigorosamente por isso, também agora, caminhando por aí, eu busco e pergunto, com base nisto que o Deus disse, se eu posso julgar sapiente qualquer um dos cidadãos ou os estrangeiros."
Platão, Todos os escritos, Apologia de Sócrates, Bompiani, 2014, p. 29
Sócrates atenta que Agostinho de Hipona está livre na sua esquerda e, então, envia-lhe a bola com um chute tenso.
"Na ordem natural, a alma está anteposta ao corpo; ela também domina o corpo com mais facilidade do que a si mesma. Todavia esta paixão, da qual estamos nos interessando agora, rebela-se e provoca mais ainda a vergonha, porque a alma não comanda eficazmente nem a si própria, ao ponto de que não experimentem prazer, nem comanda completamente o corpo, até o ponto de que, mesmo os membros, acanhadamente são guiados pela vontade, ao contrário da paixão; e em tal caso ele não teria mais pudor. Ora, ao invés, o pudor reside no fato de que a alma encontra resistência por parte do corpo, o qual pela inferioridade da sua natureza foi submetido. Nos outros sentimentos, quando a alma resiste a si mesma, experimenta pudor menor, venceu a si mesma, é também sempre vencedora; todavia este é um comportamento de desordem e de corrupção, já que ela é vencida por aquelas partes que devem ser submetidas à razão, que lhe pertencem e que portanto rendem-na, como dissemos, vencedora de si própria. Temos que quando, de maneira oposta, a alma vence a si mesma ordenadamente, submetendo os seus impulsos irracionais à sua mente e à sua razão, desde que haja o momento em que também ela esteja submetida a Deus, então é de fato louvável e virtuosa."
Agostinho de Hipona, A cidade de Deus, Bompiani, 2015, p. 684
De maneira que, Agostinho desvia a bola, pois percebe que a boca do gol adversário está próxima, dá um chute na direção do gol dos Existencialistas.
Bergson não se surpreende e com um salto de acrobata bloqueia a direção da bola.
"Todavia, com muita frequência raciocina-se sobre a vida como no tocante à modalidade da matéria inerte, e em nenhum caso a confusão é tão bem realçada quanto no discutir acerca da individualidade. Nos são mostrados os segmentos de uma lombriga, cada um reproduzindo a sua cabeça e viventes tanto quanto outros indivíduos independentes, uma hidra da qual os fragmentos tornam-se tais para novas hidras, um ovo de ouriço-do-mar cujas partes desenvolvem embriões completos: onde estava, contesta-se, a individualidade do ovo, da hidra ou do verme?"
Bergson, A evolução criadora, Editora Scuola, 1993, p. 16 - 17
Agora compete a Bergson entregar a sua jogada, mas antes de reenviar a bola, observa com atenção a posição dos seus companheiros...
Continua...
Marghera, 13 de junho de 2018
A tradução foi publicada 24.12.2019
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni
Mecânico
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