Continuação do precedente...
O tempo passa. As extremidades do campo se dissolvem. A partida de futebol dos filósofos está para chegar ao final.
Alguns filósofos estão angustiados, outros filósofos estão contentes com a sua performance futebolística.
Agora que está se aproximando o final, eles fazem a seguinte pergunta entre eles próprios: "Para que nós jogávamos? Nós nos julgávamos imortais e, agora, presenciamos o ocaso.
Enquanto isso, Mao Tse Tung, que estava atrasado na área da defesa, intercede e vem por cima de Agostinho de Hipona.
"Na realidade, os homens recebem a confirmação da verdade do seu saber somente depois que, no desenrolar do processo da experiência social (no processo da produção material, da luta de classe e da experimentação científica) alcançaram os resultados previstos. Se o homem quer vencer no trabalho, isto é, alcançar os resultados previstos, deve amoldar as suas ideias às leis do mundo objetivo externo; em caso contrário, na prática, fracassará. Se ele fracassa, disto extrairá uma lição, corrigirá as suas ideias e as amoldará às leis do mundo externo, transformando assim a derrota em vitória; é este o significado das máximas: "A derrota é a mãe do sucesso" e "Errando se aprende". A teoria dialética-materialista do saber coloca em primeiro lugar a prática; esta considera que o conhecimento humano não pode de nenhum modo estar separado da prática e rechaça todas as teorias incorretas que negam a importância da prática, subestimando o saber oriundo dela. Lenin diz: "A prática é superior ao conhecimento (teórico), porque possui não somente o valor da universalidade, mas também o da realidade imediata." A filosofia marxista - o materialismo dialético - tem duas características muito evidentes. A primeira é a sua natureza de classe: esta afirma abertamente que o materialismo dialético está a serviço do proletariado. A outra característica é a sua natureza prática: esta evidencia que a teoria depende da prática, que a teoria se baseia na prática e, por sua vez, ajuda a prática. A verdade de um conhecimento, ou de uma teoria, não é determinada por um juízo subjetivo, mas pelos resultados objetivos da prática social. O critério da verdade pode ser tão-somente a prática social."
Mao Tse Tung, Obras Escolhidas, Casa editora em línguas estrangeiras, Pequim, 1969, Tratado sobre prática, p. 315
Mao Tse Tung, cercado por Proclo, Jâmblico e Boécio, encontra uma brecha e passa a bola para Karl Marx
"O que é Estado livre? Não é absolutamente um encargo dos operários, que se liberaram do espírito mesquinho da submissão, o tornar "livre" o Estado. No Reich alemão o Estado é "livre" quase como na Rússia. A liberdade é concedida pela possibilidade de mudar o Estado de um órgão que se sobrepõe à sociedade, em um órgão completamente submisso à sociedade e, inclusive atualmente, as formas do Estado são mais ou menos livres na medida em que limitam a "liberdade do Estado". O partido operário tedesco - ao menos mostra-se adequado a esse programa - demonstra como as ideias socialistas não penetraram nem mesmo sob a pele, porque, ao invés de considerar a sociedade como ela é hoje (e isto vale para cada sociedade do futuro), como base do Estado presente (ou futuro para a sociedade futura), cuida do Estado mais como sendo um ente autônomo, patrão das suas "bases espirituais, morais e liberais". E agora chegamos ao abuso deplorável com que o programa faz das palavras "Estado hodierno", "sociedade hodierna" e ao ponto de atingirmos o mal-entendido, ainda mais deplorável, em que este cria a respeito do Estado ao qual as reivindicações são dirigidas! A "sociedade hodierna" é a sociedade capitalista, que existe em todos os Países civis, mais ou menos livre para se misturar com os medievais, mais ou menos modificada pelo desenvolvimento histórico e particular de cada país, ou mais ou menos evoluída. O "Estado hodierno", ao contrário, muda com os limites de cada País. No Reich tedesco-prussiano é diferente do suíço; na Inglaterra, diferente do estadunidense. "O Estado hodierno" é portanto um fingimento. Por esse motivo, os diversos Estados dos diversos Países civis, malgrado as suas nuances variadas de forma, têm em comum aquilo em que se avaliam todos, como estando no terreno da sociedade burguesa moderna, que é mais ou menos evoluída no sentido capitalista. Eles têm em comum, por isso, também certas características essenciais. Neste sentido podemos falar acerca da existência de um "Estado hodierno", em antítese com o futuro, onde a sua raiz hodierna, a sociedade burguesa, será eliminada."
Karl Marx, Crítica ao programa de Gotha, Samonà e Savelli, 1972, p. 47 - 48
Enquanto Marx se apronta para lançar a bola no gol do adversário, Proclo intercede tirando-lhe a bola.
"Demonstrou-se de fato que são mais universais os deuses que estão mais perto do Uno, mais particulares aqueles que estão mais longe; aqueles mais universais têm potências que podem abraçar mais coisas em relação às potências dos mais particulares; por isso, aqueles que ocupam uma posição subordinada e mais particular não conterão a potência dos mais universais. De conseguinte, nos deuses de grau mais elevado, há qualquer coisa que os menos elevados não podem conter nem delimitar. Demonstrou-se, de fato, que cada deus é infinito, não no sentido de que o é em relação a ele mesmo, nem muito menos em relação aos deuses mais elevados, mas somente àqueles que vêm depois dele 108. Consequentemente, o infinito junto aos deuses é um infinito segundo a potência 109, o infinito não pode ser contido por aquilo que é infinito. Os inferiores não participam, portanto, de todas as potências que os princípios superiores antecipadamente contêm neles próprios. De outro modo, estes últimos poderiam estar contidos pelos seus derivados, assim como os derivados o são pelos seus princípios. Os derivados não obtêm, pois, todas as potências dos seus princípios, porque são mais particulares."
Proclo, Os manuais e os Textos mágicos-teúrgicos, Elementos de teologia, Rusconi, 1999, p. 188
Proclo, após um corrida longa, com a bola nos pés, esquiva-se de uma série de adversários, e então chuta a bola para Boécio.
"E para qual coisa caminhais em busca, vós homens, reclamando com tanta insistência a intervenção da sorte? Eu presumo que procurais eliminar o desejo por meio da abundância. Vice-versa isto produz efeito contrário, do momento em que ocorrem numerosos truques para proteger um complexo multiforme de objetos preciosos, e é verdadeiro aquele ditado segundo o qual quem muito tem mais quer, enquanto outros têm necessidade de muito pouco adaptando-se à disponibilidade própria em relação às exigências da natureza e não aos excessos da ambição. Sede, pois, privados dos bens, propriamente ditos, e interiormente privados do dever de buscar os vossos bens em objetos que estão fora de vós e que vos são estranhos? Não é assim que são distorcidas as condições das coisas que, a um ser aceito como divino pelo dom da razão, não aparentam ser coisas que possam brilhar senão mediante a posse dos objetos privados de vida? Os outros seres, na realidade, estão satisfeitos com aquilo que eles têm, enquanto vós, semelhantes a Deus, por causa da atividade espiritual, vos afligis em obter lucro dos objetos com embelezamentos dos mais desprezíveis para a vossa natureza, que é muito mais superior, não imagineis qual é a ofensa dirigida, deste modo, ao vosso criador. Ele quis que o gênero humano fosse superior a todos os seres terrenos, pois vós rebaixais a vossa dignidade muito abaixo de tudo aquilo de possa ser de mais desprezível."
Severino Boécio, A consolação da filosofia, BUR, 1984, P. 149
Boécio imediatamente passa a bola para Jesus chamado "filho de Yahweh", que se coloca em posição de ataque.
"Mas naqueles dias, depois desta tribulaçao, o se escurecerá, a Lua não dará mais a sua luz, as estrelas cairão do céu e as forças que estão nos céus serão abaladas. Então, o Filho do homem será visto vir sobre as nuvens, com grande potência e glória. E ele enviará os seus Anjos e reunirá os seus eleitos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu. Aprendei, portanto, a comparar com a parábola da figueira. Quando já os seus ramos se tornam tenros, e despontam as folhas, bem sabeis que o verão já está próximo; assim também vós, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que já está perto, às portas. Na verdade vos digo: não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Mas, quanto àquele dia e hora ninguém saberá de nada, nem mesmo os Anjos que estão no céu, nem o Filho, mas somente seu Pai. Estai atentos, vigiai, porque não sabeis quando o tempo chegará. É como se um homem, partindo para uma viagem, deixasse sua casa e concedesse autoridade aos seus servos, e a cada um o seu trabalho e mandasse o porteiro vigiar. Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o proprietário da casa virá, se será à tarde, se à meia-noite, e ao cantar do galo, ou pela manhã; de modo que ele chegando de improviso não vos encontre dormindo. E tudo o que digo a vós digo também a todos: Vigiai!"
Evangelho de Marcos 13, 24 -37
E enquanto Jesus chamado "filho de Yahweh" se prepara para chutar a bola no gol de Labriola, estando este pronto para a defesa, intervém Feuerbach e lhe tira a bola.
¨"Os cristãos procuraram provar sempre, com grande maravilha, o fato dos pagãos venerarem como sendo divinos os seres que tiveram um início; ao passo que deveriam, ao contrário, admirá-los, já que essa veneração se baseava em uma intuição totalmente correta da natureza. Nascer significa individualizar-se; individuais são os seres gerados, ao contrário os não gerados são os elementos ou seres fundamentais da natureza que são universais e privados de individualidade, a matéria não é gerada. Mas, o ser individualizado, é qualitativamente superior, mais divino do que aquele que é privado da individualidade. Certamente, vergonhoso é o nascimento e dolorosa a morte; mas quem não quer iniciar e terminar, que renuncie a condição de ser vivente. A eternidade exclui a vitalidade, a vitalidade exclui a eternidade. O indivíduo pressupõe, certamente, que um outro ser o criou; e assim, o ser que cria, exatamente por isso, está acima, só que está abaixo do que foi criado. É verdade que o ser criador é a causa da existência e, como tal, o primeiro ser, mas, ao mesmo tempo, é também puramente metade matéria, a base da existência de um outro ser e, como tal um ser subordinado. A criança consuma a mãe, utiliza-a para sua própria vantagem as forças e os sucos dela, colore suas próprias faces com o sangue da mãe. E a criança é o orgulho da mãe, ela coloca-a acima dela, subordinando a sua própria existência, para o bem da existência e para o bem da criança; e até mesmo nos animais a mãe sacrifica a sua própria vida em troca dos seus pequenos. A vergonha mais profunda de um ser é a morte, mas o fundamento da morte é a geração. Gerar significa arremessar para fora, tornar-se comum, perder-se entre a multidão, sacrificar aos outros seres a unidade particular e a exclusividade. Nada mais é contraditório, errôneo e privado de sentido a pressuposição que faz com que os seres naturais derivem de um ser espiritual supremo e perfeitíssimo."
Ludwig Feuerbach, A essência da religião, Newton, 1994, p. 37 - 38
Feuerbach tem adversários que estão muito próximos dele para que ele possa tentar um tiro de meta e, por isso, prefere enviar a bola em direção a Hegel.
"A atividade da intuição, de conseguinte, produz primeiramente, e geralmente, um afastamento de nós da sensação, uma transformação do sentido dirigido a um objeto presente que está fora de nós. O conteúdo da sensação não é alterado por esta mudança; ele aqui é antes uno e o mesmo no espírito e no objeto externo; de modo que aqui o espírito não tem ainda algum conteúdo que lhe seja próprio, de forma tal para poder comparar-se com o conteúdo da intuição. Portanto, aquilo que se realiza por meio da intuição, é meramente a transformação da forma interior na forma exterior. Isto constitui a primeira maneira, esta ainda formal, com a qual a inteligência torna-se determinante. Sobre o significado desta exterioridade, é necessário notar-se duas coisas: em primeiro lugar, que o sentido, enquanto se torna um objeto externo em relação à interioridade do espírito, recebe a forma exterior dele mesmo, uma vez que o espiritual ou o racional constitui a natureza própria dos objetos. Em segundo lugar, devemos notar que, já que essa transformação do sentido deriva do espírito como tal, o sentido adquire, por meio deste caminho, uma exterioridade espiritual, isto é, abstrata, e, graças a esta, a universalidade com a qual o ser exterior pode tornar-se imediatamente participante, isto é, uma universalidade ainda inteiramente formal, privada de conteúdo. Mas, a forma do conceito, em si mesma, se divide, nesta exterioridade abstrata, assumindo a forma dupla do espaço e do tempo. As sensações estão, portanto, mediante a intuição, situadas num âmbito espacial e temporal. O elemento espacial se apresenta como a forma de uma reciprocidade indiferente: proximidade, e um existir calmo; o temporal, ao contrário, se apresenta como a forma da inquietação, do dentro de si mesmo negativo, de ser um após o outro, do surgir e do desaparecer, de modo que o temporal é, enquanto não é, e não é enquanto é. Mas, ambas as formas da exterioridade abstrata são idênticas entre elas, pelo fato de que tanto uma quanto a outra, é em si mesma absolutamente discreta e ao mesmo tempo absolutamente contínua."
Hegel, Filosofia do espírito, Utet, 2005, p. 305
É nesta situação favorável que Hegel se prepara para atacar as traves adversárias...
Enquanto o campo de futebol se dissolve, tristemente os jogadores saem da arena conscientes de terem perdido uma ocasião.
Qual é o arrependimento deles? Eles se arrependem por não terem dito tudo o que desejariam ter dito na ocasião propícia para falarem; se arrependem de não terem feito tudo o que poderiam fazer na ocasião para tais ações; os jogadores se arrependem de não terem pensado tudo o que poderiam ter pensado quando, na realidade, eles podiam pensar. Remorsos por uma vida que se acabou.
Continua...
Marghera, 22 de agosto de 2018
A tradução foi publicada 30.03.2020
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni
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