Vontade

A vida no ser natureza - Debate número 2

A filosofia do tornando-se da Religião Pagã

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

Filosofia Pagã

Índice:

--- O que se pode dizer sobre a psicologia da vontade?

--- O que diz a filosofia, sobre a vontade?

--- O que é a vontade em Bruxaria?

--- A Razão tem medo da morte do corpo físico

--- Como aparecem aos videntes, ligados à razão, os mundos de vontade?

 

Vontade como mundo de ação e manifestação do sujeito naquele mundo!

A coisa mais difícil da inteira MISTURA DO BRUXO é aquela em que me apresso em expô-la.

Devo conseguir passar-lhes a ideia, através de palavras, de alguma coisa que as palavras não estão em condições de descrever, nem a razão de imaginar.

Devo usar as palavras para fazer emergir em vocês as sensações. São aquelas sensações de um mundo não descrito através da forma, mas percebido e intuído como ações manifestadas, através da necessidade de quem as manifesta e transformada através da mutação (tempo) CRONOS !

E então, por que corro o risco de imiscuir-me falando sobre isso?

Antes de mais nada, porque não posso fazê-lo por menos, e depois porque a foice que GAIA construiu para os seus filhos e que CRONOS empunhou, exprime-se em todos os mundos, em todos os Seres, adaptando-se em tudo o que encontra, mas é um objeto em si !

Sobre o conhecimento da Foice de Gaia, como objeto em si, o Ser Humano que se manifesta na objetividade em que vive, se constrói e se modifica. É a primeira arma que o Ser Humano reconhece e empunha, para enfrentar o seu quotidiano. A Foice de Gaia permite ao Ser Humano reconhecer os mundos quando estes se lhe apresentam através das suas ações.

 

O que se pode dizer sobre a psicologia da vontade?

Da Psicologia de Umberto Galimberti :

- A VONTADE -

' Princípio da ação consciente tendo-se em vista um fim a ser alcançado. A vontade tem sido tratada como uma das faculdades espirituais no âmbito da filosofia, a partir dos gregos, que a conceberam como sendo a resultante do apetite e razão, no sentido de que a razão aprova ou desaprova o objeto do apetite, delibera acerca dos meios necessários para alcançá-lo, para depois consentir a volição que se atua na ação.

A psicologia, renunciando à busca dos princípios e abandonando a doutrina da faculdade da alma, parou de levar em consideração a noção de Vontade, porque muito abstrata e não suscetível de um controle experimental, preferindo ou uma visão determinística da psique, ou a substituição do termo vontade pela conjunção dos termos : motivação e inibição.

Isto não impediu que a palavra, embora não fosse mais tematizada, continuasse a ser empregada no uso discursivo, seja no âmbito da psicologia científica, seja no âmbito da psicologia do profundo.

Em nível fisiológico, são distinguidos os movimentos voluntários dos movimentos reflexos, no que se refere aos músculos controlados pelos centros superiores do cérebro, em referência aos músculos com comandos reflexos. Por analogia, a psicologia tradicional distinguia o ato voluntário, que é consciente, equilibrado, adequado a um fim no que se refere às suas condições que são capazes de organizar as ações ou estendê-las no tempo, distinguia, assim, do ato reflexo ou automatismo, que não tem essas características. A partir dessas premissas, o ato voluntário é a síntese de quatro elementos: A) a representação do ato a ser cumprido; B) a deliberação a respeito dos meios a serem usados, tendo em vista o escopo que se deseja atingir; C) a decisão através da qual aquele ato foi escolhido entre outros; D) a execução da ação.

Tudo isso tolera a intervenção da inteligência, da aprendizagem, e do conhecimento, além das noções de decisão autônoma, liberdade e responsabilidade ordenadas com a deliberação e a execução. A implicação de todos esses fatores evidencia que o conceito de vontade é definido somente movendo a inteira personalidade do indivíduo, seja a nível de impulsos ordenados para que prevaleçam um desejo ou uma tendência afetiva dominante em relação à outras; seja a nível intelectivo ordenado à representação que se impõe como fim entre muitas outras possíveis, seja a nível comportamental ordenado à escolha da ação mais idônea para conseguir o escopo. Uma vez acolhido o conceito de vontade, pode-se falar de patologia da vontade, em todas aquelas situações caracterizadas pela indecisão, perplexidade, dúvida, conflito que leva à uma incapacidade para resolver-se na ação voluntária.

A isto se acrescenta a impulsividade que leva à ação não concedendo espaço à representação e à deliberação, a carência (hipobulia) ou a falta (abulia) de vontade que se confrontam nas depressões, nos estados de confusão, nas demências, e nos comportamentos negativistas do tipo catatônico, onde a vontade parece totalmente anulada.

EM PEDAGOGIA: onde a noção de vontade é acolhida e empregada sem excessiva problematicidade, se faz através da liberdade do ato voluntário o fundamento da educação, a qual opera também sob condicionamentos que inclinam o ato voluntário em direção a determinados fins em relação a outros.

PSICOLOGIA DO PROFUNDO: O conceito de vontade não faz parte da teoria psicoanalítica elaborada por Freud, porque é incompatível com o assumido pelo determinismo psíquico e com a concepção de neurose causada por processos inconscientes, aos quais a noção de vontade não se aplica. Neste contexto resta o problema de justificar o conceito de MOTIVAÇÃO, que é difícil de se reconduzir à ordem impulsiva. No âmbito da psicologia individual, Adler fala de vontade na acepção de vontade de potência (no sentido de superioridade), como uma tentativa de compensação aos complexos de inferioridade, enquanto na psicologia analítica Jung escreve: "Por vontade entendo a soma de energia psíquica da qual a consciência pode dispor. O processo de volição seria, portanto, um processo energético que é ativado por uma motivação consciente. Não chamarei, pois, volitivo um processo psíquico determinado por uma motivação inconsciente. A vontade é um fenômeno psicológico que deve a sua existência à civilidade e à educação moral, mas que falta quase que completamente na mentalidade primitiva" (1921, pág, 492)

 

O que diz a filosofia, sobre a vontade?

1) Definição incerta na literatura psicológica. Tem por base as ações e as escolhas de um sujeito. Cada ato voluntário se secciona em quatro momentos:

A) Escolha do objetivo a ser atingido;

B) Deliberar > Proclamar

C) Decisão;

D) Execução

Nietzsche :

É a tensão em direção ao novo, o mais elevado e se manifesta como determinação subjetiva no super-homem;

Schopenhauer:

Vontade de vida é o impulso a ser conservado e gerado, com o qual a vontade universal se manifesta, a si mesma, nos indivíduos que constituem o mundo da representação.

 

O que é a vontade em Bruxaria?

A vontade é mundo nele mesmo!

O mundo é reconhecido enquanto tal, somente porque é vontade: porque é o resultado final de cada ato de vontade. Como ato final (neste momento) se manifesta a nós.

O mundo se manifesta a nós como um conjunto de sujeitos que se distinguiram contínua e sistematicamente:

A) O próprio objetivo;

B) Deliberaram para alcançá-lo;

C) Decidiram alcançá-lo

D) Colocaram as ações para virem-a-ser para alcançá-lo;

*A tensão emocional; o envolvimento emotivo subjetivo; a paixão; o respiro que pára por uma ínfima fração de tempo antes do deliberar; a tensão como carga que se acumula nas tensões individuais, enquanto a razão manifesta as decisões (ou aquilo que as decisões compreende); a agitação psíquica que tende a compreender elementos também desconhecidos que intervêm na formação das decisões; apreensão ou expectativa suspensa; estados diversos de inquietude; a cobiça, a mudança do estado atual, ou de uma situação vivida; TUDO ISTO É A MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DENTRO DO INDIVÍDUO !

Tudo o quanto se reproduz a nós outra coisa não é, senão a sequência universal das escolhas, na qual, com a razão, recortamos uma ilha, uma porção, que descrevemos.

O mundo sai da representação descritiva, que nos dá a razão do sujeito, para ser percebido, intuído e vivido através das manifestações dos elementos do seu complexo.

Os Seres Humanos são educados, portanto, para que as suas ações sejam dependentes da reprodução feita pela razão. Uma representação em que o percebido, o vivido e o intuído, são reais somente quando respondem à descrição da razão.

O mundo não se move como agrada a razão, mas se move impulsionado pela sua necessidade. De necessidades diversas daquelas que a razão do indivíduo projeta, como expectativas das ações que os sujeitos do mundo executam. Necessidade de existência à qual cada elemento em particular, do mundo, soma à sua própria vontade através do seu nous próprio !

Inclusive o próprio Ser Humano nasceu levado pelas suas necessidades ! À necessidade do seu vir-a-ser, somou a sua própria vontade. A razão chegou depois que o indivíduo se formou. Depois do seu crescimento no ventre da mãe; depois das solicitações educacionais do Sistema Social, durante os primeiríssimos meses da sua existência no mundo da forma.

Perceber e intuir o mundo, através das necessidades subjetivas, significa perceber o mundo através da ação do sujeito, e relacionar-se com o mundo através das nossas ações.

O Ser Humano cessa de ser ESPECTADOR e juiz do mundo, mas se torna ATOR despejando no mundo a sua ação própria, como necessidade manifestada nos próprios desejos, que outra coisa não constituem senão as tensões de expansão do sujeito em relação à objetividade em que vive.

O mundo compete comigo !

Enquanto isto sucede, eu venho a ser educado para descrever e discutir acerca do mundo !

Vejo e descrevo a forma de uma árvore; não percebo nem intuo a dinâmica de vida que lá se me apresenta, nem as transformações sucessivas em execução. A minha atenção vem a ser concentrada sobre a forma da árvore, e tende a anular a ação que caracteriza aquela forma.

Algumas ações são descritas pela razão, como a atividade desse sujeito, mas a razão tende a anular a ação dele, a sua inteligência, a sua vontade de existência. Tanto é assim que os sujeitos do mundo se tornam cada vez mais inativos (passivos) e "sem inteligência" (destaquei com aspas) quanto mais a forma se afasta daquela forma descrita pelo indivíduo. Este, de fato, concede inteligência aos Seres da própria espécie, concede um "menos inteligentes" aos Seres Animais, menos ainda aos Seres Vegetais, e quase nada aos lugares e planetas. De modo que, a razão do indivíduo não reconhece neles as mesmas emoções, os mesmos sentimentos, as mesmas estratégias de existência. Ao contrário, a vontade da existência se reconhece em cada objeto existente !

O mundo é ator da vida !

Cada sujeito do mundo é ator da vida, enquanto eu estou sendo educado para ser espectador da vida ! Como espectador, reputo-me juiz imóvel ( que chegou aonde tinha de chegar, sapiente, finalizado, sem necessidade de transformação subjetiva própria), e penso nessa minha representação como sendo absoluta (alguém afirma que o homem é a espécie mais evoluída da Natureza).

AO FAZER ISTO, RENUNCIO À AÇÃO, ISTO É À VIDA !

Posso, partindo da razão, que a minha espécie me impôs educacionalmente, passar do mundo da descrição ao mundo da vontade ?

Certamente! O condicionamento educacional é imposto "sobre " as tensões da vida, não as substitui. Tende a dirigir a manifestação das tensões da vida, dentro dos elementos próprios da razão. Submete-as, mas não as substitui.

Depois de ter afirmado (ao indivíduo) o quanto ela, razão, é necessária, como estrutura que governa as relações entre os Seres da espécie, podemos, no entanto, colocá-la à parte em todas aquelas ações que comportam o desenvolvimento do indivíduo. De fato, a razão REGISTRA o desenvolvimento do indivíduo, mas não é artesã do desenvolvimento do sujeito. À falta de uma descrição forte e articulada (que se pode chamar de ciência) leva a razão a resolver aquele seu ignorar o fenômeno à superstição; portanto, a razão não favorece o desenvolvimento do indivíduo, mas limita-se apenas a registrar o desenvolvimento.

Podemos colocar a razão à parte, através do envolvimento emocional em determinada ação que está finalizada à consecução de um objetivo, que seja tão envolvente, "absoluto" e emocionante ao ponto de suspender a razão e consequentemente o controle dela sobre o indivíduo, fazendo com que aflore a intuição e o já vivido, trâmite à NECESSIDADE DA AÇÃO !

Envolvimento emocional em uma situação objetiva tal que coloca em perigo a sobrevivência da razão. Uma situação traumática que obriga a razão a se retirar.

Ou então, entrar nos mundos da percepção através do sonho.

 

A Razão tem medo da morte do corpo físico

A coisa que é mais temida pela razão é a morte do corpo físico. Esse medo é transmitido pela razão ao indivíduo inteiramente. Por quê a razão tem medo da morte? Porque com a morte do corpo físico morre também a razão. O território que ZEUS construiu para os seus filhos está destinado a parar de existir. Os filhos do Ser Natureza constroem os seus desafios dentro do terreno da forma. Só que os desafios que colocam em execução no terreno da forma, plasmam o corpo luminoso deles. O corpo luminoso percebe o mundo de modo diferente do corpo físico, mesmo se gradativamente ao crescer, o corpo luminoso tem a tendência em usar os sentidos dos quais se serve também o corpo físico. Aquela que nós chamamos de razão, como Seres Humanos, é uma fração de todas as "razões" que são próprias dos Seres da Natureza. Todos os Seres da Natureza percebem o mundo como forma, pouquíssimos o definem como os Seres Humanos. Pouquíssimas razões instauram uma ditadura absoluta sobre o Ser do qual são expressões. Poucas "razões" entre os Seres da Natureza temem a morte do corpo físico, pelo menos não na forma dos Seres Humanos, que estão cientes de terem destruído a possibilidade de transformação do indivíduo de quem a razão se proclamou dona. De um lado temos a vontade que leva o indivíduo por meio dos seus impulsos a manipular a sua própria estrutura emocional; e por outro lado, a razão que tenta impedir tal vontade, para impedir de ser modificada. Acontece que, a modificação da estrutura emocional através dos impulsos, leva a manipular e construir o nosso corpo de energia, enquanto o princípio da realidade que a razão impõe a esses impulsos, outra coisa não é senão a gaiola de ferro das limitações educacionalmente impostas, com a finalidade de não se construir o corpo luminoso, isto é: com a finalidade de não perceber o mundo de forma diferente. Com a morte do corpo físico, se produz a prestação de contas, e a própria estrutura emocional é a única que está em condições de transformar a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso, enquanto a razão morre. O terror pelas manifestações dos impulsos subjetivos vem instilado nas pessoas, enquanto esse Sistema Social não está em condições de direcionar ao seu próprio favor tal expressão. O Sistema Social constrange as pessoas a obedecerem aos esquemas objetivamente impostos. Disso resulta que toda a estrutura da tendência subjetiva vem a ser falseada por essas constrições, e a sua manifestação sem disciplina resulta autodestrutiva.

Conseguir intermediar entre manifestações da estrutura emocional e estrutura social, é arte da Bruxaria. De fato, significa organizar-se subjetivamente afim de que VONTADE se exprima no "reino" da RAZÃO, obrigando esta a expandir-se e a modificar-se sem que perca o controle das relações, entre cada indivíduo do qual é expressão, e o Sistema Social no qual ele opera.

Dois modos de se viver, entrar nos mundos da percepção (vivendo neles por desafio) ou VIVER POR DESAFIO no quotidiano, podem destruir o indivíduo não preparado, não munido ( o crente católico, por exemplo),

*Peço licença a Claudio Simeoni, para aqui acrescentar os crentes cristãos em geral, que aqui no Brasil constituem um grande número de fanáticos*

ou mesmo forjam e preparam o indivíduo para perceber o mundo através da vontade manifestada por ele (mundo).

Como é bloqueada a capacidade dos indivíduos para viverem através da ação?

Os bloqueios se manifestam no momento da decisão (abulia ou hipobulia), ou seja falta de coragem. Na realidade, a coerção educacional agiu demais construindo a incapacidade de um sujeito em reconhecer os seu próprios impulsos, as próprias necessidades, escolher o objetivo e os respectivos instrumentos, com os quais persegui-lo.

Vem reduzido a um estado aonde é incapaz de FAZER-SE DEUS ! Vem reduzido a uma incapacidade de agir na própria objetividade.

Vem reduzido a um estado vergonhoso de reconhecer a si mesmo, o mundo e as relações que nele se interceptam.

Não está em condições de poder intuir as transformações que a sua ação provoca. O MEDO das transformações e das reações, bloqueiam-no !

Nós, como Seres Humanos, estamos educacionalmente preparados para descrevermos objetos que executam ações que conseguimos descrever ! Não podemos fazer diversamente.

No entanto, as ações se manifestam, determinando-o, o ser que as executa, transformando-o !

As ações produzem o indivíduo ( as ações nos constroem). Além do que, nós estamos em condições de individuar o nous no sujeito que manifesta as ações.

A Bruxaria trata do agir, enquanto o agir é transformação!

A Bruxaria trata do agir, em condições que determinam o agir, enquanto este leva à transformação!

A Bruxaria trata da vontade como objeto na SUA MANIFESTAÇÃO.

Em muitos mundos da percepção, a substância dos sujeitos é dada pelas ações que estes sabem fazer atuar. Mundos aonde se produz o equilíbrio recíproco de ações que aparecem como objetos.

-MUNDOS DE AÇÕES COMO SUJEITOS, NOS QUAIS DEUSES E BRUXOS SÃO ENQUANTO AGEM ! Mundos em que representa como objeto a ação, e as decisões de agir que se manifestam no quotidiano da razão.

Houve um tempo em que as ações davam nomes aos objetos, no nosso caso aos DEUSES. Especialmente na Roma Antiga. Angerona : o poder através do qual se sai do silêncio; Bellona: o poder por meio do qual se sai da guerra; Cerere: o poder do crescimento; Venere: o poder da veneração!

Depois do que, a descrição se apropria da ação, descreve um objeto que simboliza a ação, o símbolo assume forma objetiva, os homens esquecem a ação que fundou o objeto, e o verbo que indicava a ação se torna um nome. Os homens se recordam o nome (substantivo), esquecem da ação que o gerou e não estão mais em condições de reconhecerem a manifestação daquela ação nos objetos do mundo. Aquele nome, aquela descrição penetra fundo no indivíduo que projeta sobre aquela forma a sua imaginação. Assim, àquele nome corresponde uma forma e não um agir.

A imobilidade da forma leva vantagem sobre a ação da qual o objeto é símbolo, no controle da atenção do sujeito.

Assim, aquele poder universal que atravessa tudo o que existe, tal como CERERE, se torna o deus das colheitas; aquela tensão de existência que é BELLONA, se torna uma espécie de fúria da guerra; o poder das relações entre os objetos do mundo, tal como VENERE (VÊNUS), se torna uma deusa da beleza.

O mundo dos objetos existe como tal na nossa mente, porque nós o representamos dessa maneira. Porque temos os sentidos que os percebem deste modo. Porque organizamos os nossos sentidos para assim percebê-los. Porque a nossa espécie organizou os Sistemas Sociais que preveem que o Ser Humano perceba o mundo desse modo, e através disso, se organize dentro do Sistema Social.

Como podemos chegar ao mundo da ação e da vontade?

Antes de mais nada, desviando a nossa atenção do objeto descrito à ação que descreve o objeto. As ações que o objeto cumpre, são os fenômenos que a nós se apresentam, e das quais devemos partir para entendermos o o objeto em si.

Enquanto isso, definimos os homens enxergando as ações que eles praticam. As ações que nós observamos e os intentos que naquelas ações intuímos, devem nos levar a definirmos os homens. Depois passa-se do Sistema Social, em que vivemos, ao conjunto dos Seres da Natureza. A coisa mais importante é que a "descrição" ou "definição" que damos ao sujeito, seja relativa às ações que ele executa. Por que isto é importante? Porque nos permite superar a razão, bloqueando as suas ilusões. O que a razão nos obriga a fazer? Nos obriga a descrever um sujeito, e uma vez descrito, a projetar sobre aquele sujeito as expectativas como fomos educados a acreditar que o objeto seja ou faça. Esse hábito em acreditar nos leva a omitir as suas ações reais do sujeito para ressaltar nele somente aquelas ações que ele executa em obediência às nossas expectativas.

Assim, para construir o engano, o que deve fazer o sujeito? Praticar qualquer ação que faça parte das expectativas do espectador, apresentá-la com ênfase, e separá-la em intervalos das ações diversas das expectativas do espectador, não enfatizando estas. O resultado será o de que o espectador não perceberá que as ações que, de fato, vêm a incidir sobre ele mesmo, são aquelas que não são manifestadas com ênfase. Projetando as ilusões da própria razão sobre o objeto descrito ao espectador, foge da real importância das ações cometidas pelo objeto. Se o indivíduo desvia a sua atenção do sujeito, que executa as ações, às ações para a definição do sujeito, impede a ação do sujeito para enganar. Essa ação de alteração de ponto sobre o qual focalizar a atenção, é o primeiro passo que leva o indivíduo a "descrever" o mundo através das ações: o primeiro passo para colocar em foco a vontade!

É o primeiro passo para perceber o mundo da Vontade!

Para fazer isto, é importante tornar-se artesão das próprias estratégias de vida:

A) No quotidiano: viver por desafio;

B) No sonho: viver por desafio;

Como podemos reconhecer o mundo da Vontade?

Fazendo vir-a-tona, aos poucos, uma série de mediações com a razão dos desafios pela vida.

No mundo, com ações ou com a Vontade operam os Bruxos !

No mundo, com ações ou com a Vontade operam os DEUSES !

De fato, os DEUSES podem ajudar os indivíduos SOMENTE se os indivíduos agem. Os DEUSES são evocados ou chamados através do Intento que manifesta aquele DEUS particular ou DEUSES no indivíduo, e podem alimentar ou retirar as energias para as ações. Podem fazê-lo porque uma ação praticada no mundo quotidiano por um indivíduo, se manifesta em cada mundo com a forma e a representação própria daquele mundo e é percebida por cada sujeito envolvido nas relações com os "sentidos', com os quais ELE percebe aquela realidade. Portanto, cada sujeito que sofre um fenômeno, pode reconhecer se aquele fenômeno lhe é útil ou lhe é danoso, além das representações que aquele fenômeno tem em mundos diversos daquele tanto que ele percebe.

Se os indivíduos não colocam em prática ações, estratégias, nem seguem as suas tensões (no sentido de impulsos naturais), nem manifestam os seus Intentos, então estarão sempre separados dos DEUSES, enquanto estes DEUSES deles percebem SOMENTE o modo de agirem, a direção do agir dos indivíduos, a qualidade desse agir, a força com que agem: reitere-se somente o quanto é expressado no agir!

Em sendo assim, podemos afirmar que os DEUSES são ações, não descrição ou representação. Após o que, Seres Humanos fazem a intermediação entre ação e simbolismo da forma que aquela ação, por eles praticada, representa na cultura que naquele momento estão vivendo.

As relações com os DEUSES são construídas apenas e tão-somente por meio das ações, que respondem à necessidade, que é manifestação das tensões e dos desejos, e que bloqueia a descrição da razão, dando existência às estratégias, que irão escolher e atingir o objetivo ao qual a tensão e os desejos aspiram.

O mundo da Vontade se intui, mas não se descreve.

É vivido, mas não tem forma.

 

Como aparecem aos videntes, ligados à razão, os mundos de vontade?

São mundos indistintos, privados de forma. Os videntes se movem na água, sem estarem sobre ou embaixo dela. O mesmo em uma grande quantidade de névoa. Ou ainda, envoltos pela escuridão. São representações psíquicas, do que não é distinguido, é indistinto, que a razão do sujeito a si mesma se representa. Não existe um lugar aonde se andar ou do qual se veio. É exprimido somente o impulso subjetivo como: a vontade de penetrar a água, ou a neblina ou a escuridão. É desse impulso subjetivo que diz à nossa razão que estamos agindo. Mas a razão não sabe nem por qual coisa estamos agindo, nem sabe qual coisa desejamos atingir, e muito menos em que coisa consiste a nossa ação.

Naquela escuridão, naquela água, naquela névoa, podem tomar forma os medos, as nossas ilusões, as nossas angústias, sob forma de mil imagens. Naquele escuro, naquela névoa, ou na água podemos desafiar essas imagens a um "duelo", seja nos mundos do sonho, seja em percepção alterada. São as únicas formas que podemos encontrar entrando nesses mundos. Podemos encontrá-las porque não pertencem a esses mundos, mas pertencem à nossa razão, que dá forma aos seus guardiões (fobias, complexos, etc.) que tentam impedir ao indivíduo de "sentir-se bem" na escuridão, na névoa ou na água.

O que significa "sentir-se bem" naquele mundo de escuridão, neblina ou água? Significa que se está agindo dentro deles. Agir dentro deles significa a pessoa modificar a própria estrutura emotiva, tornando-a mais ágil. Se as coisas não andaram perfeitamente bem, acorda-se com um certo tipo de angústia (para os sonhadores) que desaparece quando se acorda, ou acorda-se após cessado o estado da percepção alterada. Se as coisas vão bem, isto é se estamos em condição de nos movermos nesses mundos sem nenhum problema, então há uma continuidade emocional entre as sensações dentro da escuridão, da névoa ou da água e as sensações do quotidiano da razão.

As coisas podem ser vistas também pelo lado oposto: se dentro do mundo da razão se manifestarem problemas de improviso, os estados emotivos alterados desses problemas desaparecem quando se entra na escuridão, e ao emergir-se novamente no quotidiano da razão, sem a urgência emotiva que lhe atribuíamos. É como se o problema, mesmo subsistindo, venha a ser enfrentado por uma predisposição emocional diferente.

Mergulhar nos mundos da Vontade permite viver os mundos da razão sem as obsessões.

As ações, o agir, que aparecem como objetos descritos em si, ou a ação que substancia a realidade do objeto, falaremos a propósito do Intento.

O mundo da vida quotidiana é um fragmento subjetivado do mundo da vontade.

Agindo-se sobre o mundo da vontade, produzem-se efeitos no mundo da razão, sem que esta compreenda a origem desses fenômenos. Exatamente como agindo-se no mundo da razão se produzem fenômenos também no mundo da vontade. Só que o mundo da vontade percebe o fenômeno como objeto além de como o sujeito o produz e o percebe (além da descrição e do motivo descrito pelo qual o sujeito se manifestou), enquanto os fenômenos que chegam do mundo da vontade à razão, vêm submetidos pelo que é descrito por ela, razão (chegam ao sujeito não por aquilo que são, mas por aquilo que a razão quer que sejam, com base na sua própria estrutura : isto dá origem à superstição!). Submeter a tal ponto, que com frequência a razão projeta sobre aquele fenômeno as suas ilusões próprias, ou a superstição.

O agir por desafio do mundo da razão nos permite intuir o mundo como Vontade, ação e transformação.

No mundo dos sonhos, se alargam os confins da razão, e nos é preparado para agirmos em outros mundos sem a descrição racional.

Se hoje em dia podemos falar disto sem passarmos por doidos, demonstrou-se que a vontade de adaptação dos Seres da Natureza aconteceu sem a descrição da razão!

Portanto, podemos afirmar, sem temor de exagerar, que a razão não tem nenhuma relação com desenvolvimento da vida. Ou melhor, é um âmbito no qual a vida age para manipular a energia vital fazendo-a passar de uma condição de inconsciência a uma condição de consciência. É um direito de ZEUS consentir o nascimento dos seus filhos. Só que esses filhos de ZEUS têm o dever de se transformarem em DEUSES por meio de um comportamento heroico, se confrontando com o mundo da forma, da razão; devem fazê-lo através do instrumento que à razão e à forma não pertence, porque GAIA armou com a foice dentada a mãos de CRONOS com o fim de que construísse o próprio Poder de Ser. Aquela foice dentada é tudo quanto GAIA doa aos filhos de ZEUS afim de que conquistem o posto deles entre os DEUSES OLÍMPICOS : a VONTADE ! Vontade que se exprime na razão.

Que coisa a razão impõe à Vontade?

Submissão a ela!

Submissão à sua descrição!

Impõe o Medo, que é alimentado pelos guardiões da razão, que estão atentos para que o Ser Humano não supere os confins que a razão coloca à sua própria descrição.

Como que a razão alimenta o mito destes guardiães? Através da superstição !

Como que o Ser Humano sai desta?

Desviar a atenção da forma (descrição dos objetos) sobre a qual projetamos expectativas, às ações através das quais definimos a forma conforme nos é consentida:

1) Antes de tudo, de não nos enganarmos, iludindo-nos, que daquela forma possam se originar aquelas ações e somente aquelas ações (O Ser Leão tem as presas, mas não dilacera todos aqueles que o recebem a tiros, existem outras razões para fazê-lo; um padre católico se inspira no seu deus que chama de bom, e estupra crianças ! Quantas pessoas atiraram contra o Ser Leão só porque temiam as presas dele; quantas pessoas confiaram os seus filhos aos padres católicos !);

2) Definir de maneira funcional o mundo em que agimos: precisamente, o seu agir;

3) Esta prática faz surgir a exigência emocional de compreender o complexo do qual brota o agir do mundo e os fenômenos, que do mundo chegam a nós e através dos quais construímos a nossa ideia do mundo;

4) Nos leva a visualizar, compreender e penetrar o complexo em que os fenômenos produzidos vão inserir-se, e as adaptações que o conjunto executa (ver o tempo que vem de encontro);

5) Nos leva a agir de conformidade com os princípios da Bruxaria onde o objetivo do agir são as condições finalizadas para que o fenômeno (que desejamos provocar) germine por si. Agir afim de que o fenômeno se gere (disto falaremos quando desenvolvermos o discurso sobre a Arte da Emboscada).

Observar as ações para definir um objeto não significa (ou pelo menos não somente) ser um juiz das suas ações, mas viver a mesma emoção com que o objeto manifesta a si mesmo em relação a nós.

Distinguir conjuntamente as vontades que agem para que nós geremos os fenômenos das condições que eles construíram, irá ativar a nossa estrutura emocional que vem arrastada por tudo quanto distinguimos, ao ponto de consentir-nos escolher qual fenômeno manifestar com o fim de arrastar as emoções da vontade do mundo.

Trata-se de viver as emoções pelas ações que aqueles sujeitos executam ao compreender o intento deles, o conjunto pelo qual aquelas ações germinam, e o conjunto em que as adaptações que se geram vão inserirem-se.

A nossa estrutura emocional vem a ser alterada, purificada, enriquecida quando vivemos as emoções que os sujeitos, que formam a objetividade, acionam no mesmo momento em que nós:

1) Respondemos às manifestações do sujeito, adaptando-nos (a adaptação é entendida como decisão ativa, manifestação de vontade subjetiva, não é entendida na exceção de passividade!);

2) Respondemos adaptando-nos às ações do conjunto que reage;

3) Respondemos adaptando-nos às ações que são fruto do nous do conjunto;

4) Introduzimos no complexo em que vivemos as nossas ações como manifestação do nosso nous.

Este fazer não é o produto de um cálculo da nossa razão (ainda que esta deva intermediar entre aquilo que fazemos e as relações sociais em que se vive), mas porque as nossas emoções são envolvidas seja no que se refere na soltura das ligações, seja no que se refere à construção do novo.

Tudo isto constitui percepção emotiva !

Será vontade ligada ao real vivido, e portanto funcional, apropriado, para a nossa existência, quanto estaremos em condição de não projetarmos as nossas expectativas sobrepondo-as às nossas emoções e às tensões que as exprimem.

Realmente, as expectativas manifestadas pela razão são ilusões, com as quais se ofusca a percepção das relações emocionais.

A vida sempre vence, sem a razão bem como sem a sua descrição.

Nós, como Seres Humanos, porém, não podemos fazê-lo por menos.

(modificado para o debate de 14 de Abril de 2003)

 

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

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Cod. ISBN 9788891170897

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Claudio Simeoni

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